O Banco Central do Brasil divulgou, nesta terça-feira (24), a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada.
Na ocasião, o comitê optou por elevar a taxa Selic em 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), para 10,75% ao ano, e adotou um tom duro no comunicado que acompanha o anúncio, dando a entender que novas altas virão, inclusive, podendo acelerar o ritmo de avanço.
No documento publicado hoje, o Copom destacou que o cenário externo segue desafiador, e a “menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países” segue exigindo cautela por parte dos emergentes, como é o caso do Brasil.
Eles citam, em específico, o momento de “inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed”.
Olhando para o cenário doméstico, o documento aponta que os diretores fizeram uma reavaliação do hiato para o campo positivo respaldado nos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho, que têm apresentado “dinamismo maior do que o esperado”.
Além disso, a ata também mostra um grande desconforto deles com a desancoragem das expectativas de inflação.
“A reancoragem das expectativas é um elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta ao menor custo possível em termos de atividade”, afirma o documento.
“O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação”.
Com relação à situação fiscal do país, o Copom volta a afirmar que é necessário que a política fiscal seja “crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos”, destacando que isso é essencial “para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Dessa maneira, na visão da diretoria do BC, o cenário prospectivo de inflação se tornou “mais desafiador”, com as perspectivas para a inflação aumentando mesmo que condicionadas a uma trajetória de taxa de juros amis elevada, o que os levou a crer que é necessário “uma política monetária mais contracionista”.
“Comitê julgou que o início do ciclo deveria ser gradual de forma a, por um lado, se beneficiar do acompanhamento diligente dos dados, ainda mais em contexto de incertezas, tanto nos cenários externo como doméstico, mas, por outro lado, permitir que os mecanismos de transmissão da política monetária que possibilitarão a convergência da inflação à meta já comecem a atuar”, afirma a ata, destacando que a opção de um início gradual foi unânime.
Com relação aos próximos passos da política monetária brasileira, algo que ficou em aberto no comunicado da semana passada, o documento publicado hoje só afirma que o ritmo de ajustes na Selic bem como a magnitude do ciclo serão ditados pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
Para o estrategista-chefe da SPCAP Investimentos, Fabio Susteras, o BC encara um cenário complexo e deve acelerar o ritmo de alta na próxima reunião do Copom.
“De forma geral, a ata indica que o BC encara um cenário econômico externo complexo, um fiscal também complexo, todo um panorama de atividade econômica mais aquecida, o que deve levar o BC a acelerar o ritmo de elevações daqui para a frente, mesmo tendo iniciado o processo de alta da Selic de forma gradual”, afirma.
Susteras acrescenta que essa perspectiva é corroborada no parágrafo 24, onde o Copom assume um ‘firme compromisso de convergência da inflação à meta’, dando a entender que a Selic deve subir 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) na próxima reunião.
A XP partilha da mesma visão.
De acordo com o time de research da instituição, a ata reforça o tom mais duro [hawkish, no jargão do mercado] adotado no comunicado e deixa clara a necessidade de uma política monetária mais restritiva.
Com isso, os analistas projetam uma aceleração no ritmo de alta, com a Selic sendo aumentada em 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) em Novembro.