A segunda-feira (30) foi marcada por algumas falas de integrantes do Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos.
Em uma entrevista concedida à Reuters, o presidente regional do FED de Atlanta, Raphael Bostic, afirmou estar aberto a um novo corte de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) nos juros do país em Novembro, caso os próximos dados do mercado de trabalho norte-americano apresentem uma deterioração.
“Uma surpresa para o lado fraco [do mercado de trabalho] me faria precisar ainda mais de outra mudança dramática”, afirmou ele.
Bostic disse que a perspectiva inicial para o processo de flexibilização monetária era de sucessivos cortes mínimos, de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), o que levaria a taxa de juros do país para o intervalo entre 3,00% a 3,25% ao final do ano que vem, mas que está com a mente aberta para os próximos encontros, a depender, também, de como a inflação se comporta à partir de agora.
Por outro lado, em seu discurso à Associação de Banqueiros da Geórgia, Michelle Bowman, governadora do FED e que deu o único voto por um corte mínimo, de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), afirmou que tomou a decisão por acreditar que fosse necessário um início de processo mais “ordenado”.
Isso porque, do seu ponto de vista, ainda que tenha havido “algum progresso adicional na desaceleração do ritmo da inflação”, o núcleo do CPI ainda está “desconfortavelmente acima da meta de 2%”, com os preços se mantendo “muito mais altos do que antes da pandemia”, pressionando a renda das famílias de classes mais baixas.
Sobre o mercado de trabalho, Bowman afirmou que, apesar do desemprego estar “notavelmente mais alto do que há um ano”, ele segue em níveis historicamente baixos e que sua desaceleração decorre de condições extremamente apertadas.
Sendo assim, ela considerou que um corte de menor intensidade seria a melhor abordagem, já que ele “teria evitado o risco de sinalizar involuntariamente preocupações sobre as condições econômicas subjacentes”.
“Começar o ciclo de corte de taxas com um movimento de 1/4 ponto percentual teria reforçado melhor a força nas condições econômicas”, pontuou.
Já o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, se mostrou mais comedido em seu discurso para a National Association for Business Economics.
Apesar de reiterar que a inflação está em processo de normalização, Powell deixou claro que não espera mais um corte de tamanha agressividade quanto o de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) anunciado em Setembro. Pelo contrário. Ele indicou que os próximos movimentos serão menores.
“Olhando para o futuro, se a economia evoluir amplamente como esperado, a política se moverá ao longo do tempo em direção a uma posição mais neutra. Mas não estamos em nenhum curso predefinido. Os riscos são bilaterais, e continuaremos a tomar nossas decisões reunião por reunião”, afirmou, em seu discurso.
Durante a sessão de perguntas e respostas, Powell disse que o comitê “não está com pressa para cortar as taxas rapidamente” e que, caso a economia tenha o desempenho esperado, ele espera mais dois cortes de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) até o final do ano.
Sobre a redução anunciada em Setembro, o presidente do FED voltou a afirmar que ela foi uma “recalibragem” da política monetária do país, refletindo a melhora nas condições atuais.
“Essa decisão reflete nossa crescente confiança de que, com uma recalibração apropriada de nossa postura política, a força no mercado de trabalho pode ser mantida em um ambiente de crescimento econômico moderado e inflação se movendo de forma sustentável para baixo em direção ao nosso objetivo”, comentou.
Já sobre a situação do mercado de trabalho norte-americano, Powell afirmou que ele segue “sólido”, mas que está “claramente esfriando” este ano e que o comitê não enxerga a necessidade de ver um resfriamento ainda maior para que a inflação volte à meta de 2%.
Após os comentários proferidos pelos três, o mercado voltou a apostar de forma majoritária em um corte de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) no encontro do comitê de política monetária (FOMC, na sigla em inglês) de Novembro.
De acordo com a ferramenta FEDWatch, do CME Group, cerca de 65,4% dos investidores apostam agora em uma redução mínima enquanto 34,6% deles projetam um corte de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual).
Na última sexta-feira, 53,3% deles acreditava que o FOMC anunciaria um novo corte de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual), contra 46,7% que projetava uma redução de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual).
Apesar disso, o mercado segue precificando que o FED irá reduzir os juros em 75 pontos-base (0,75 ponto percentual) este ano, projetando uma redução de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) em Dezembro.
Para o ano que vem, a perspectiva é de que a taxa de juros norte-americana chegue ao intervalo de 3,00%-3,25% em Junho, com quatro cortes nos quatro primeiros encontros do ano, e ali ela deve permanecer até, pelo menos, Outubro de 2025.