A gestora de recursos Kinea, ligada ao Banco Itaú, publicou, no fim do ano passado, uma carta “extra”, que traz suas perspectivas para 2025.
Nela, a gestora traça um paralelo entre “As Quatro Estações”, de Antonio Vivaldi, e os diferentes cenários que se desenham para o ano que começa.
A começar pela Primavera, alegre e vibrante, “que simboliza o renascimento da natureza”, a gestora coloca os ativos norte-americanos, que devem se beneficiar da nova administração de Donald Trump, “representando o início de um novo ciclo”.
“Em anos recentes, embora o S&P 500 tenha progredido mesmo com as altas taxas de juros na economia, essa performance foi muito concentrada no setor de tecnologia, entre as chamadas ‘Magnificient 7’, impulsionadas pelo processo de inteligência artificial”, explica.
“Com o arrefecimento dos juros, combinado com as novas políticas da administração Trump, vemos uma possível primavera para diversos ativos que foram postos de lado em anos recentes”.
A gestora acredita na possibilidade de “um movimento sustentável em diversas classes de ativos dentro dos Estados Unidos”, destacando que setores como bancos regionais e pequenas empresas dos Estados Unidos estão praticamente no mesmo patamar que se encontravam a dois anos atrás, “não obstante o forte crescimento da economia norte-americana”, o que deve mudar com políticas de corte de impostos, desregulamentação e tarifação.
Além disso, o dólar também faz parte da Primavera, impulsionado pela aplicação de tarifas a produtos importados pelos Estados Unidos.
O Verão, mais dramático e intenso, conta com ativos para os quais a gestora considera as tendências ainda fortes, “mas já em fase madura e consolidada”, como é o caso dos títulos públicos norte-americanos.
“Com as tarifas a serem implementadas por Donald Trump, juntamente com as medidas de desregulamentação e cortes de impostos, imaginamos que o excepcionalismo norte-americano deve se manter em 2025”, afirma.
“Esse excepcionalismo, juntamente com o efeito das tarifas na inflação, deve trazer uma taxa de juros mais resiliente nos Estados que nos demais países desenvolvidos”.
A Kinea acredita que a exploração do diferencial de juros norte-americano em relação às demais economias globais, “principalmente economias mais frágeis”, deverá continuar em 2025.
Ela também adiciona nesta classificação o setor de inteligência artificial, destacando as áreas de cloud, semicondutores e software.
“Para 2025, a construção da infraestrutura deve continuar: continuamos otimistas em empresas como Nvidia e Marvell, que desenvolvem os chips necessários para esse processo”, afirmam.
“Os provedores de computação na nuvem, como a AWS da Amazon e a Oracle, também nos parecem construtivos, com o crescimento da demanda final por processamento em inteligência artificial”.
Além dessas duas, a gestora acrescenta o ouro no Verão, com a combinação “de demanda por diversificação dos bancos centrais, por razões geopolíticas, combinada com a demanda chinesa pelo metal” continuando a impulsionar os preços da commodity este ano.
No Outono, com “ativos que já passaram pelo verão, e se encontram agora menos favorecidos e em desaceleração”, a gestora coloca a economia brasileira e o petróleo.
Com relação ao Brasil, ela projeta que “a trajetória ascendente dos juros e o menor crescimento dos gastos públicos” devem desacelerar o crescimento do país na segunda metade de 2025, o que deve trazer dificuldades para os ativos brasileiros.
“Devemos, de certo modo, entender a economia brasileira como rodando em esteroides ao longo dos últimos dois anos, com um impulso fiscal da ordem de 3% do PIB, fazendo com que a arrecadação fiscal também rodasse acima do seu potencial”, explica.
A gestora acredita que, para que o país saia do ciclo vicioso que se encontra, será necessário uma resposta conjunta e crível do governo, do Congresso e do Banco Central, algo que, até o momento, não aconteceu.
Já com relação ao petróleo, a Kinea mantém “uma visão pouco construtiva para a commodity em 2025, tanto pelo lado da oferta, com a Opep com dificuldades para sustentar os seus preços, quanto pelo lado da demanda, em que diversos sinais na China e ao redor do mundo já apontam por substituição da demanda de gasolina”.
Já no austero e sombrio Inverno, com ativos “que já passaram pelo seu outono, e hoje se encontram em seu nadir em busca de redenção e na esperança de uma futura primavera”, a gestora colocou a China e a União Europeia.
“Após ser vista como a locomotiva do mundo, a China apresenta desafios que provavelmente representarão um doloroso inverno, não obstante os estímulos sendo promovidos pelo governo central – entre as quais a primeira mudança de instância de política monetária para ‘estimulativa’ desde a crise financeira global de 2008”, afirma, sobre a situação da economia chinesa.
“Com as municipalidades chinesas enfrentando dificuldades de financiamento, por queda nas vendas de terra para o mercado imobiliário, o sistema de crescimento chinês se tornou mais dependente do comércio global, e a perspectiva de um governo Trump não deve ajudar Pequim”.
Já com relação às perspectivas para a Europa, a gestora argumenta que “o fraco desempenho de economias como a Alemanha, o Reino Unido e a República Tcheca, em nossa visão, deve demandar uma resposta à altura de seus respectivos bancos centrais, com efeitos em juros e moedas locais”.
Com isso, ela segue vendida em moedas europeias, enquanto segue aplicada em juros.