Era uma vez uma terra distante chamada Sibipiruna, uma vasta região abençoada com riquezas naturais abundantes e uma diversidade cultural vibrante, conhecida por suas florestas tropicais exuberantes, suas praias deslumbrantes e uma economia emergente que atraía investidores do mundo todo. A capital do reino chamava-se Fusca, uma cidade planejada que simbolizava a esperança e o progresso da nação.
Nesse reino várias forças governavam algum aspecto do poder público. Havia governantes que ditavam as leis e regras, aqueles que às julgavam e vários outros que também mandavam e desmandavam dentro das muitas esferas públicas. Esses mandantes executavam seus cargos durante tempos pré-determinados chamados de mandatos. Esse conto em particular, gira em torno de dois destes mandantes, por assim dizer – um deles, responsável por executar as políticas publicas e administrar o país (a Casa dos Regentes) que era eleito. O outro: responsável pelo controle da moeda e dos preços, o chefe do Reservatório Central de Moeda que era nomeado. A estória começa durante os últimos anos de mandato deste e dos primeiros anos de mandato daquele e se estende por vários períodos após isso.
Durante esse período e, apesar de todas as bênçãos geográficas, Sibipiruna enfrentava desafios e dificuldades significativas em relação a gastos públicos, inflação e juros. O responsável por operar os mecanismos de controle do preço da moeda e dos produtos (juros e inflação), o chefe do Reservatório Central (nome do departamento competente), Gilberto Minas, havia subido os juros há alguns anos, com o intuito de tentar controlar o aumento de preços resultante de uma crise mundial sem precedentes – isso freou o aquecimento da economia como um todo, tornando o adiantamento de recursos financeiros (famoso empréstimo) mais caro, ou seja, dificultando projetos de todos os tipos. Remédio amargo para conter o desequilíbrio de preços gerado pela crise global e por déficits fiscais históricos recorrentes do reino de Sibipiruna*.
O recém-empossado para o cargo de Chefe da Casa dos Regentes, Sandro Santos, que era um governante carismático, não se sentia muito confortável com aquela situação.
Na busca por transformar a economia e melhorar a vida de seus cidadãos visando crescimento e justiça social, o presidente o governante Sandro, partiu para um embate público contra Gilberto, atacando e tentando jogar a população contra o gestor.
Veja bem – para você entender esse conceito – neste reino, o Reservatório Central era uma instituição independente, como eram os Reservatórios Centrais de muitos outros reinos modelos, já desenvolvidos que tinham economias avançadas. Sandro Santos não gostava nada desta norma recentemente criada, pois tirava poder da Casa dos Regentes que antes “acumulava” as duas funções.
Para você entender: o mandato para líder do Reservatório Central era descasado do mandato de Chefe da Casa dos Regentes e era este Chefe da Casa dos Regentes que escolhia quem comandava o Reservatório Central de Moeda, portanto Gilberto tinha sido escolhido pelo Regente anterior e isso também incomodava o atual eleito. É. Essa estória parece uma novela mesmo.
Pois bem, conforme o mandato de Gilberto se aproximava do fim, o regente Sandro Santos começou a especular os possíveis nomes indicados para sua substituição. A vontade de Sandro era indicar um substituto que pudesse “obedecer” a suas vontades políticas e implementar um cronograma mais forte de queda dos juros, buscando incentivar a economia, aumentando a oferta de crédito e fazendo com que os empréstimos para financiamentos fossem mais baratos, com juros menores.
Juros mais baixos incentivam a população e até o governo a gastar mais, gerando uma sensação de melhoria do bem-estar e da qualidade de vida. São efeitos que demoram alguns anos para ganhar momentum, ou seja, fazer efeito. São efeitos que também têm desdobramentos negativos, bem documentados na história econômica, mas que demoram um pouco mais para acontecer. Geralmente esse crescimento gerado por um ciclo de expansão do crédito vira um ciclo de contração econômica devido ao aumento de preços algum tempo depois, criando primeiro aumento de crescimento e sensação de bem-estar econômico, depois crises econômicas e depressões financeiras. Coincidentemente as eleições para a Casa dos Regentes seria em cerca de 2 anos – tempo suficiente para colher os frutos positivos sem amargar a contração que ocorreria depois.
Bom, sem entrar em mais detalhes econômicos, Sandro Santos acabou aventando o nome de Galileu, um economista respeitado, para dirigir o Reservatório Central na próxima transferência de chefia. Esse foi um episódio engraçado da história de Sibipiruna (se não fosse trágico), pois logo depois dessa sinalização, Galileu, que era um diretor (subalterno de Gilberto – uma novela) no Reservatório Central da Moeda, acabou votando contra as ideias de Sandro Santos em uma reunião de decisão de juros (Plot Twist). A partir daí, inclusive, passou-se a acreditar que Galileu, com sua postura técnica e moderada, poderia equilibrar as demandas do mercado financeiro com as necessidades do povo.
Mágoa e traição
Mas Sandro não gostou nada da traição. Chegada à data da indicação efetiva do novo chefe do Reservatório Central, surpreendendo a todos (nem todos), Sandro, em vez de indicar Galileu, indicara Alonso Mercearia, um velho político e amigo do Regente, com uma carreira estranha e no mínimo duvidosa. Com o comando da Casa dos Regentes e o comando do Reservatório Central de Moeda, Sandro finalmente consolidava seus planos de expandir seu poder.
Infelizmente, a tensão entre as políticas governamentais e a realidade econômica logo se tornou evidente. O governo de Sibipiruna começou a pressionar o Reservatório Central para reduzir as taxas de juros drasticamente, apesar dos avisos do mercado de que isso poderia levar a uma inflação descontrolada, Alonso, grato e fiel a Sandro, obedeceu. Em um esforço para financiar amplos programas sociais e infraestrutura, numa ânsia por transformar o reino em um lugar melhor e finalmente alçar Sibipiruna ao desenvolvimento com essa política inovadora, o governo começou a imprimir dinheiro em quantidades alarmantes. O mercado financeiro ficou tenso, temendo que o Reservatório Central de Moeda, sob o comando de Mercearia e a influência de Sandro Santos, tivesse perdido sua independência.
Alonso Mercearia nem tentou mostrar que poderia chefiar o Reservatório de forma técnica, os juros caíram mesmo com a inflação alta e enquanto as taxas de juros dos Reinos do Norte, mais desenvolvidos e tido como paraísos seguros para o dinheiro, permaneciam altas. Além disso a inflação por lá ainda estava sendo considerada alta – fruto de crises históricas vividas por todo o mundo. Os Reinos do Norte eram a principal força global e sua moeda, o Áureu$, era usada para todo tipo de negócios internacionais como moeda universal.
Pense comigo: se você tivesse milhões de Áureu$ e no lugar mais seguro do mundo você obtivesse um rendimento de 5% ao ano, enquanto em Sibipiruna, com toda essa confusão, sendo bem menos pujante economicamente, com todos os riscos e incertezas, você ganhasse 8% de rendimento ao ano. Apenas 3% a mais por todo esse rico – em qual deles você investiria?
Pois é, não deu outra. Houve também uma fuga de Áureu$ de Sibipiruna, fortalecendo ainda mais o aumento de preços.**
Com o tempo, a insistência do governo em baixar as taxas de juros levou a uma espiral inflacionária. A moeda de Sibipiruna começou a perder valor rapidamente. Investidores estrangeiros fugiram, e a confiança na economia despencou. O reino, que antes era visto como um destino promissor para investimentos, começou a enfrentar uma crise econômica severa.
À medida que a inflação aumentava, o custo de vida disparava. Os cidadãos de Sibipiruna começaram a sentir os efeitos devastadores da má gestão econômica. Os preços dos alimentos e bens essenciais subiram a níveis inacessíveis, e a população enfrentou escassez de produtos básicos. Empresas fecharam, e o desemprego atingiu patamares alarmantes. A desvalorização da moeda fez com que Sibipiruna fosse isolada economicamente, com poucos países dispostos a fazer negócios com o reino.
Você sabia?
O que aconteceu em Sibipiruna parecia um eco distante da tragédia de Zimbabue, uma nação outrora próspera que enfrentou uma hiperinflação devastadora. Em Zimbabue, a má gestão econômica, a impressão desenfreada de dinheiro e a falta de confiança na moeda levaram a uma inflação de 89,7 sextilhão por cento (89.700.000.000.000.000.000.000%), forçando o governo a abandonar sua própria moeda. Houve inclusive uma lei que tornou a inflação ilegal por lá (sim esse é um caso real). Em Sibipiruna, os mesmos erros começaram a produzir resultados semelhantes.
Voltando à nossa fábrica reino.
Com a inflação descontrolada, o governo de Sandro Santos tentou várias medidas desesperadas. A impressão de dinheiro continuou, mas em vez de resolver os problemas, apenas agravou a situação. A população de Sibipiruna, que outrora tinha esperança no futuro, agora enfrentava um cenário de desespero e incerteza. A confiança no governo e nas instituições econômicas foi completamente destruída. Controle de preços fizeram produtos desaparecerem da prateleira e o país mergulhou em dívidas.
Finalmente, a pressão internacional e a insatisfação interna levaram a uma mudança de liderança. Sandro Santos, que havia ganho a reeleição por duas vezes consecutivas, foi forçado a renunciar. Um novo governo foi formado na esperança de estabilizar a economia, gerando expectativa no povo de Sibipiruna – que era uma nação gentil, alheia à política e economia, sempre cheia de esperança. No entanto, os danos já estavam feitos, e levaria décadas para Sibipiruna se recuperar completamente dos erros de suas lideranças.
Todo vilão é herói na sua própria história.
A história de Sibipiruna serve como um lembrete sombrio dos perigos de desrespeitar os princípios econômicos fundamentais. A falta de uma gestão econômica prudente, a impressão desenfreada de dinheiro e a influência política sobre o Banco Central podem levar a consequências devastadoras. Assim como aconteceu em Zimbabue – caso real – e Sibipiruna, nosso reino fictício.
Com boas intenções faz-se muita coisa (Todo vilão é herói na sua própria história). Não precisamos testar tanto para aprender que a estabilidade econômica e a confiança nas instituições são vitais para o bem-estar de uma nação. A história que contei é bastante fantástica sim – mas conceitos econômicos não são. É como dizem: “a arte imita a vida” ou seria “a vida imita a arte?”
Mensalmente, escrevemos nessa coluna sobre aquilo que acreditamos ser relevante para você investir melhor, mas em nosso blog toda semana tem conteúdo novo. Se você quiser saber mais sobre como podemos te ajudar a investir melhor e proteger seu patrimônio, antes que a ficção vire realidade, te convido a conhecer o site da Ascenda Investimentos.
*Insights do autor: Veja, não existe número negativo na contabilidade. Tudo tem um débito e um crédito. Todo déficit governamental é compensado ou por impressão de moeda ou aumento de receita via impostos. Funciona para sua vida também: toda vez que você compra no cartão o banco te empresta dinheiro criando uma dívida. Você tem um débito do seu presente à custa de um crédito do seu futuro. Adiciona no presente, retirando do futuro (com juros).
**Insights do autor: Poucos Áureu$ na economia significa que eles tendem a se valorizar ainda mais, subindo sua cotação frente à moeda de Sibipiruna.