Cenário Internacional
As eleições presidenciais americanas adquiriram um tom dramático nas últimas semanas. A tentativa de assassinato contra Donald Trump, a desistência de Joe Biden e o lançamento da pré-candidatura de Kamala Harris transformaram o cenário político. Donald Trump, ex-presidente e candidato pelo Partido Republicano, sobreviveu a um atentado que quase lhe tirou a vida.
Na sequência, o Partido Republicano realizou sua convenção, oficializando a candidatura de Trump e escolhendo o senador J.D. Vance, de Ohio, como candidato a vice-presidente. Logo após, o presidente Joe Biden retirou-se da disputa eleitoral devido à pressão de lideranças e políticos democratas, especialmente após seu desempenho insatisfatório no primeiro debate com Trump. O Partido Democrata iniciou discussões e negociações internas para escolher o substituto de Biden, com a vice-presidente Kamala Harris emergindo como a favorita. Devido a falhas na proteção ao candidato Trump, Kimberly Cheatle, diretora do Serviço Secreto americano, renunciou ao cargo. Com mais de três meses restantes para as eleições, e sem um candidato democrata definido, analistas se perguntam sobre o resultado da eleição e quem é o favorito.
O atentado a Trump, onde uma bala de raspão atingiu sua orelha e resultou na morte de um de seus apoiadores, evidenciou a tensão da campanha. Apesar dos esforços do Partido Democrata para se reorganizar, o desafio é monumental. Se Kamala Harris se consolidar como candidata sem disputas, pode haver uma sensação entre os eleitores de que foi uma escolha da cúpula do partido, algo que Trump pode explorar na campanha, acusando os democratas de autoritarismo.
O Partido Democrata enfrenta divisão interna entre três grupos distintos, que, mesmo apoiando Harris, lutarão para influenciar sua plataforma eleitoral. Harris, associada à ala mais à esquerda do partido e às pautas de costumes, pode alienar eleitores conservadores do centro-oeste, crucial para a eleição.
Adicionalmente, os Republicanos acusam as lideranças democratas de enganar os eleitores sobre a condição de saúde de Biden. O processo eleitoral promete ser verbalmente violento, e apesar das dificuldades democratas e do favoritismo de Trump, o resultado ainda é incerto.
No âmbito econômico, o atentado e a desistência de Biden impactaram significativamente o mercado financeiro. Inicialmente, a expectativa era de que uma possível vitória de Trump, especialmente após o desempenho desastroso de Biden no debate, poderia alavancar o “Trump Trade”. Essa perspectiva considera impactos na inflação, gastos do consumidor, política monetária e o crescente déficit fiscal do país.
Trump prometeu acabar com a inflação, mas sua política fiscal anterior sugere um aumento de preços. Sua reeleição significaria menos regulamentação, favorecendo setores altamente regulamentados como bancos e energia, além de incentivar a produção de combustíveis fósseis, independentemente das consequências climáticas. Trump também manifestou interesse em criptomoedas, embora muitos analistas considerem suas declarações mais retóricas do que práticas.
Por outro lado, uma vitória de Kamala Harris seria vista como uma continuação da agenda de Joe Biden, com regras financeiras mais rígidas. Isso poderia desagradar bancos, mercados de criptomoedas e outros participantes do mercado financeiro. Harris, conhecida por sua postura dura contra grandes bancos durante sua atuação como procuradora-geral da Califórnia e senadora, reforça esses temores.
O mercado também considera as implicações globais das eleições. Sob um possível comando de Trump, espera-se mais protecionismo e menor ênfase na América Latina. Em contraste, uma vitória democrata poderia levar a acordos comerciais multilaterais, potencialmente beneficiando o Brasil com mercados mais abertos. Ambos os candidatos têm visões distintas sobre questões climáticas, direitos humanos, imigração e inclusão social, influenciando a estabilidade econômica global e afetando economias emergentes como a do Brasil.
As apostas estão sendo feitas, e conforme o desfecho das urnas em 5 de novembro, poderemos sentir duras consequências nos trópicos. A eleição continua indefinida, com impactos significativos esperados tanto na política quanto na economia global.
Cenário Doméstico
O mau humor externo tem contribuído significativamente para a valorização do dólar em relação ao real e a outras moedas emergentes, mas o contexto doméstico brasileiro também apresenta desafios substanciais. Apesar do esforço do governo em anunciar uma contenção de R$ 15 bilhões para tentar garantir a meta fiscal de déficit primário de 0,25% do PIB, o impacto positivo foi limitado. O mercado continua cético sobre a capacidade do governo de manter a estabilidade fiscal, refletindo uma percepção negativa persistente.
A antecipação e confirmação oficial dessa contenção evitaram um cenário econômico pior, mas não eliminaram a incerteza sobre a real possibilidade de alcançar a meta fiscal de déficit primário zero em 2024. A declaração do presidente de que bloqueios no orçamento serão realizados sempre que necessário não foi suficiente para tranquilizar os investidores e analistas, que ainda duvidam da efetividade dessas medidas.
Permanece a dúvida se o presidente realmente autorizou o ministro da Fazenda a adotar uma abordagem mais rígida no ajuste fiscal, focando em cortes de gastos. O bloqueio de R$ 15 bilhões parece visar apenas a banda inferior da meta fiscal deste ano, enquanto as previsões de receitas continuam superestimadas e as despesas subestimadas. Essa falta de confiança nas estimativas oficiais agrava a percepção de risco fiscal.
A atualização da projeção de déficit primário para R$ 28,8 bilhões sugere que o governo está apostando na sorte para alcançar suas metas fiscais. Essa dependência inclui uma expectativa de boa arrecadação e possíveis compensações fiscais, como a desoneração da folha de pagamentos. Contudo, tais projeções deixam um espaço considerável para imprevistos, aumentando a volatilidade e a incerteza no mercado.
A incerteza fiscal contínua afeta diretamente o mercado cambial, as taxas de juros e a bolsa de valores, especialmente durante períodos de maior estresse no mercado global. Eventos recentes, como a crise tecnológica global e a queda nos preços das commodities, destacam a vulnerabilidade do Brasil a choques externos. A resposta do mercado a essas pressões tem sido exacerbada pela falta de clareza sobre a política fiscal do governo.
Além disso, a possibilidade de frustrações na arrecadação, como as relacionadas ao voto de qualidade do Carf, e os próximos testes com o envio do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025 ao Congresso, mantêm o mercado em estado de alerta. A maioria dos analistas continua cética quanto à capacidade do governo de cumprir até mesmo a banda inferior da meta fiscal deste ano. Essa ceticismo reflete a percepção de que o ajuste fiscal pelo lado dos gastos ainda não foi plenamente implementado, deixando o mercado em uma postura de expectativa e nervosismo diante dos próximos relatórios de avaliação de receitas e despesas.