Em um cenário econômico desafiador, caracterizado por altas taxas de juros e inflação elevada, muitos investidores se encontram preocupados com a erosão do poder de compra e a volatilidade dos mercados tradicionais. As taxas de juros crescentes podem reduzir a atratividade de ações e títulos, enquanto a inflação corrói os retornos reais desses investimentos.
Nesse contexto, explorar alternativas de investimento torna-se essencial para quem busca diversificação e proteção contra a inflação. Mesmo para aqueles que desconhecem ou não têm interesse inicial em investimentos alternativos, este texto (pretensiosamente) se propõe a revelar como essas opções podem oferecer uma estabilidade relativa e oportunidades únicas de crescimento, apresentando uma nova alternativa para navegar por tempos econômicos incertos.
Definir investimentos alternativos pode ser algo complexo; no entanto, por uma questão de simplicidade, podemos considerá-los como investimentos que possuem características diferentes da liquidez, regulamentação, convencionalidade e naturalidade tipicamente associadas aos investimentos tradicionais disponíveis ao público em geral.
Em economês “simples” investimento é o resultado da formação bruta de capital fixo e variação de estoques, o que significa, em termos práticos, a utilização de dinheiro com o objetivo de gerar lucros futuros. Ao discutir investimentos, normalmente aludimos a vias convencionais como dinheiro, ações, obrigações, depósitos e outros títulos a prazo fixo, com a intenção de colher benefícios no futuro. Você aplica seu dinheiro esperando uma taxa de retorno de volta dentro de um determinado período específico.
No entanto, certos investimentos fogem da norma. Existem investimentos que não são considerados convencionais devido à sua composição única, estrutura de preços, termos de propriedade, acesso e atributos. Esses investimentos são conhecidos como investimentos alternativos.
Os investimentos alternativos são geralmente propriedade de investidores institucionais, clientes de fundos privados e indivíduos com elevado património líquido, mas ao longo dos anos o desenvolvimento do mercado financeiro e de novas tecnologias vêm permitindo que esses ativos sejam acessados por mais pessoas a custos mais baixos.
Esse é um texto bastante altivo (me desculpem), falar de investimentos alternativos em poucas páginas de forma simples e objetiva irá me obrigar a fazer concessões. Encarecidamente pedirei que, pelo bem da explicação geral, o leitor possa me compreender (principalmente os mais experientes).
A primeira concessão, já que remédio amargo se toma logo: vou simplificar a gama de investimentos alternativos em apenas 5 categorias:
1. Ativos reais
Esses investimentos incluem imóveis, terrenos, propriedades, infraestruturas, commodities, colecionáveis ou recursos naturais.
2. Fundos de hedge
Um fundo de hedge é um veículo de investimento organizado. Estas instituições são menos regulamentadas e utilizam uma gama de oportunidades de investimento e estratégias de negociação para gerar lucros para os clientes e cobrar taxas em troca.
3. Capital privado
O capital privado é essencialmente um investimento em capital/propriedade e dívida não negociado publicamente. Incluem – mas não somente – o financiamento de novos empreendimentos, a compra de empresas existentes, aquisições alavancadas e dívidas inadimplentes para financiamento mezanino. Venture Capital (Startups), Stressed Capital entrariam nesta categoria também.
4. Produtos Estruturados
Produtos estruturados são instrumentos financeiros derivativos estruturados e customizados para gerar fluxos e retornos expressivos para os investidores por meio de alavancagem, securitização e cupons. Notas, CDOs e derivativos de crédito são produtos estruturados comuns (Não estou falando de COEs).
5. Ativo digitais
Representações digitais de valor ou direitos que são criadas, armazenadas e transferidas eletronicamente. Eles incluem criptomoedas como Bitcoin e Ethereum, que operam em redes de blockchain, e NFTs (Non-Fungible Tokens), que são tokens únicos representando propriedade de itens digitais como arte, música ou vídeos. Além disso, ativos digitais podem abranger tokens de utilidade, tokens de segurança, e outros tipos de criptomoedas que servem a diferentes propósitos dentro de ecossistemas digitais.
A lista de investimentos alternativos possui milhas de extensão. É aqui que as coisas começam a ficar interessantes. Além de formas alternativas de ganho de capital e diversificação, esses produtos financeiros também podem ser escolhidos por propósito, ideologia.
Na minha mesa, como gestor de investimentos, já analisei projetos de vinhos enlatados (que acabei descartando e deram muito certo), projetos de silvicultura, energia renovável, aplicativo de date para velhinhos, digitalização de sintomas médicos, tokens de blockchain, entre outros. As possibilidades parecem quase infinitas. A própria SPACE X do famoso bilionário Elon Musk já foi um “projeto de garagem”. Inclusive essa discussão é legal: investimentos tradicionais possuem escala, enquanto os investimentos alternativos ainda não – aí está um dos potenciais de ganho, entrar em algum projeto antes da sua escala, mas isso é discussão para outro texto.
Embora o potencial de retorno desses ativos possa parecer sedutor, esse texto não é sobre isso. A palavra do dia é a diversificação. Os investimentos alternativos frequentemente têm correlação baixa com ativos tradicionais, como ações e títulos. Isso significa que eles podem ajudar a reduzir a volatilidade geral do seu portfólio e melhorar os retornos ajustados ao risco.
Em tempos de instabilidade nos mercados financeiros isso acaba se tornando relevante na estratégia e na tática. Além disso, algumas dessas alternativas, podem servir como uma proteção eficaz contra a inflação. Durante períodos inflacionários, alguns ativos tendem a valorizar (bastante inclusive), preservando o poder de compra do investidor. Como é o caso de imóveis, commodities e colecionáveis.
Não raramente eu esbarro em algum investidor que possui uma coleção de relógios caros, vinhos raros e até obras de artes que superam os retornos do S&P 500, IMAB-5, IBOV, entre outros.
Alguns desses itens inclusive são tokenizados, criando um híbrido entre o ativo digital e o ativo real, permitindo que mais pessoas tenham acesso a itens de valor muito alto devido a fragmentação do ativo em vários tokens (não à toa bem parecido com a bolsa de valores).
Ok, mas como assim esses ativos protegem contra a inflação?
Bom a inflação é um fenômeno de aumento de preços de produtos e serviços, em alguns casos a relação é bem simples e reta mesmo, como é no caso das commodities: pense que se você detém contratos de sacas de trigo ou minérios metálicos ou até investe em energia, sempre que esses itens sobem, seus investimentos valorizam. Em outras a relação é indireta.
Se a inflação for monetária por exemplo, ou seja, houve injeção de crédito na economia é bem provável que muitos ativos se valorizem. Isso vale muito bem para inícios de ciclos inflacionários onde os juros ainda estão baixos.
Observado que os produtos aumentam de preço, as empresas que os vendem faturam mais, seus valores de mercado também sobem. Lembro muito bem do boom das startups em 2019 e 2020. Vi Power Points serem vendidos por milhões de reais literalmente – fruto de uma taxa de juros muito baixa (injeção de capital na economia que culminou com aumento de inflação em 2022 e 2023).
Essa alternativa aos investimentos tradicionais pode ser muito valiosa em cenários de incerteza, juros e inflação com sinais mistos, aumento de pressão política sobre a economia e crises produtivas e climáticas. Entretanto toda moeda tem dois lados e há riscos envolvidos nessas mesmas premissas. Isso cria um gancho para algumas ressalvas.
Desvantagens dos Investimentos Alternativos
Apesar das vantagens, os investimentos alternativos também apresentam desvantagens que precisam ser cuidadosamente consideradas.
Muitos investimentos alternativos são menos líquidos do que ações e títulos, o que significa que pode ser difícil vender rapidamente esses ativos a um preço justo. Isso representa um desafio para investidores que necessitam de liquidez imediata – tente imaginar sozinho a liquidez necessária que um investidor possa precisar em tempos de crise.
Além da liquidez, essa alternativa de rentabilidade frequentemente requer um nível mais alto de conhecimento e experiência para serem geridos. A complexidade envolvida na estrutura e na gestão desses ativos pode ser uma barreira para investidores menos experientes, até porque também trazem custos mais altos para o investidor.
Hedge funds podem usar alavancagem para aumentar os retornos, aumentando o risco de grandes perdas. Investimentos em private equity podem falhar se as empresas investidas não tiverem o desempenho esperado, startups precisam passar pelo vale da morte e tokens podem não vingar como esperado. A própria taxa de juros impacta negócios de maneira diferentes criando corrida por investimentos e aumentando seus preços sem aumentar seus fundamentos (o seu valor) por muitas vezes – o que vale também ao inverso.
Os investimentos alternativos podem ser uma adição valiosa a um portfólio diversificado.
Realizar uma pesquisa minuciosa é essencial ao considerá-los. Pensar nos riscos, estrutura de taxas, liquidez, benefícios e até nos valores por trás de cada projeto devem ser tarefas suas ou das pessoas que cuidam seus investimentos (que você confie muito, por favor).
É extremamente importante que tudo isso seja considerado no seu planejamento patrimonial para que você não “precise” resgatar um investimento desses antes do prazo, pagando custos e perdendo rentabilidade, só porque decidiu comprar um carro novo, ou porque surgiu “aquela oportunidade” de última hora. Em um mundo mais diversificado e acessível, se conhecer e conhecer o produto é cada vez mais importante para não enriquecer outras pessoas com seu próprio trabalho.
Com tudo isso alinhado provavelmente você terá (ou já tem) investimentos alternativos e eles serão benéficos para sua carteira se você jogar suas cartas da forma correta.