Há quem ainda acredite que o dia das mulheres é um dia romântico. Na verdade se trata de um dia profundamente politico. O dia tem sua origem em 1908 com protestos in Nova Iorque por melhores condições de trabalho, pagamento e por direitos de voto (não existentes para mulheres na época). Protestos subsequentes tomaram o mundo em poucos anos, com pedidos similares, desde a Alemanha até a Russia. Ainda assim, direitos básicos femininos demoraram anos a vir a cabo. Apenas em 1920 mulheres puderam votar nos Estados Unidos. No Brasil, 1932. França, 1944. Israel, 1948. Suíça, 1971. E nisso estamos falando apenas do direito ao voto.
Ao redor do mundo, mulheres ainda possuem restrições legais referentes a quais vagas podem ocupar, quais turnos podem fazer, quais tipos de trabalho podem fazer, se podem se locomover, viajar e viver da mesma forma que um homem, se podem ganhar os mesmos salários, se podem receber heranças da mesma forma, entre tantas outras restrições legais. O “Women, Business and the Law” index, do Banco Mundial, quantifica as disparidades das leis de cada país entre homens e mulheres. O ultimo relatório encontrou que, globalmente, mulheres possuem apenas 2/3 dos mesmos direitos que homens. O index funciona assim: a 100 seria a total paridade entre homens e mulheres, ao passo que zero seria a total desigualdade (onde mulheres não teriam nenhum dos mesmos direitos que homens). Observe que em nenhuma região do mundo, a nota 100 é atingida.
Isso afeta diretamente a forma com que mulheres ao redor do mundo podem viver, serem livres, participar da economia, e ter sucesso nela. Por exemplo, em quase nenhum país do mundo (apenas 8), mulheres são a maioria em posições de gerencia.
Employment in senior and middle management, female (%)
Emprego em quadros superiores e intermediários, feminino (%)
Da mesma forma, em nenhum país do mundo para o qual se tem dados, o número de mulheres diretoras de empresa é maior do que o número de homens.
Number of directors by gender
Numero de diretores por gênero
Também em nenhuma região do mundo, mais empresas possuem mulheres em cargos de CEO do que homens.
Firms with female top manager (% of firms)
Empresas com gestão feminina (% de empresas)
Isso obviamente também se extende à política. Em nenhuma região do mundo mulheres possuem as mesmas proporções que homens em cargos representativos. Sejam eles ministérios ou parlamentos.
Proportion of women in ministerial level positions (%)
Proporção de mulheres em cargos de nível ministerial (%)
Proportion of seats held by women in national parliaments (%)
Proporção de assentos ocupados por mulheres nos parlamentos nacionais (%)
Esse grau de desigualdade não é somente injusto e danoso para as mulheres. É ruim para toda a sociedade. Somando-se aos argumentos de liberdade, diversidade, justiça, equidade e direitos, temos também o de desenvolvimento economico e social. É cada dia mais numeroso o número de estudos e relatórios globais que quantificam as perdas causadas pela desigualdade de genero e os ganhos potenciais do caso contrario.
Por exemplo, o Banco Mundial, em um estudo de 2018, encontrou que a desigualdade de gênero em remunerações poderia levar a perdas de riqueza de US$23 mil per capita, globalmente. Se mulheres ganhassem o mesmo que homens, a perda em riqueza de capital humano devido à desigualdade de gênero é estimada em US$160,2 trilhões somados os 141 países incluídos na análise. Isso é cerca de duas vezes o valor do PIB globalmente. Dito de outra forma, a riqueza do capital humano poderia aumentar em 21,7% globalmente, e a riqueza total em 14,0% com a igualdade de gênero nos ganhos.
As perdas potenciais são maiores ainda quando olhamos para além dos salários. Hoje, 48% das mulheres em idade de trabalho participam da economia – contra 73% dos homens. Deixar de fora da economia boa parte da mão de obra capaz, é uma alocação totalmente ineficiente dos recursos que tem um país. Não somente isso, mas a diversificação de postos de trabalho por meio de participação de mulheres tende a compor equipes mais criativas e produtivas, o que também impacta nos ganhos economicos e empresas e países. Um estudo de 2016 da McKinsey Global Institute (MGI) conclui que se as mulheres participassem na economia de forma idêntica aos homens, poderiam acrescentar até 28 bilhões de dólares, ou 26 por cento, ao PIB global anual em 2025. Este é aproximadamente o valor combinado do tamanho das economias dos Estados Unidos e da China hoje.
Não somente falamos de crescimento economico. O FMI, em um estudo de 2013 reporta que as mulheres têm maior probabilidade do que os homens de investir uma grande proporção do seu rendimento familiar na educação dos seus filhos. Assim, uma maior participação econômica e rendimentos das mulheres poderia traduzir-se em despesas mais elevadas com educação infantil – o que possui impacto direto no desenvolvimento de uma sociedade. Outros estudos mostram como mulheres podem formar melhores lideranças por serem menos propensas a conflitos e mais propensas em pensar na comunidade.
A sociedade ainda enfrenta desafios significativos em promover a igualdade de gênero e melhorar as condições para mulheres no mercado de trabalho. Embora a luta pelas mulheres seja diária, o Dia Internacional da Mulher destaca a importância de avançar nessas questões não apenas em datas comemorativas, mas como uma prioridade contínua. A superação desses obstáculos traz benefícios não só para as mulheres, mas para a sociedade como um todo, potencializando o desenvolvimento econômico, social e a diversidade em ambientes de trabalho. Reconhecer a variedade de desafios enfrentados por mulheres em diferentes países do MENA sublinha a necessidade de políticas específicas que considerem essas diferenças, visando a igualdade de gênero de forma eficaz e abrangente.
Viva as mulheres, e que possamos todos construir um mundo melhor para elas, logo, para todos.
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