Mas como assim? Para a inauguração de uma coluna sobre politica, acredito que nada mais cabível do que uma introdução à própria política. Me lembro de nos tempos de início de faculdade essa ser uma das frases que me causava mais inquietação: “tudo é político”.
Até então para mim política era o que engravatados faziam na televisão, era coisa de prefeito, senador, deputado, presidente. Política era até então sinônimo de gente querendo ganhar voto, mentindo, fazendo raras aparições e brigando entre sí. Ao longo dos seguintes 10 anos de estudo, vivencia, pratica e carreira é que eu fui entendendo que a política é muito mais do que isso e vai além de tudo o que eu acreditava.
Na economia
Se você, assim como eu, trabalha com economia e/ou investe, provavelmente já sabe que a economia e a política são praticamente indissociáveis. As decisões dos políticos inflenciam gastos, os gastos influenciam no deficit e no desenvolvimento, o deficit influencia no risco, o risco influencia a taxa de juros e a taxa de juros é a “mãe da bolsa”. O desenvolvimento economico influencia taxa de emprego e desemprego, que influencia inflação, que também influencia a taxa de juros. Taxa de juros reflete na disponibilidade de crédito e capital, o que dita a facilidade de se fazer negócio e espandir empresas no país. A diplomacia influencia e muito nas relações comerciais e fluxo migratorio entre países, o que influencia a balança comercial, a taxa de cambio, disponibilidade de mão de obra, o que no fim influencia no desenvolvimento economico do país. Decisões no parlamento resultam em novas leis, parâmetros comerciais a serem seguidos, formas de tributação, previdência, contribuições – tudo o que impacta na vida tanto dos funcionários quanto dos empreendedores. Decisões no judiciário ditam a segurança jurídica que é dada ao investidor, e ao consumidor; e por fim o nivel de compromentimento do executivo resulta no nível de fiscalização em todas as esferas de atividade econômica.
Poderiamos citar mais infinitas formas de como economia e política se influenciam fortemente – ainda nos mantendo na esfera dos políticos, como tradicionalmente muita gente ainda pensa em política.
A política vai além dos políticos
Ainda bem, a política vai muito além dos políticos. Se eu tivesse que definir tudo o que é política em alguma poucas palavras, eu diria que a política é arte de decidir. Simples assim, com todas as complexidades que isso permite. Dentro dessa definição, os políticos são chamados de políticos porque são literalmente pagos para decidir. Leis, atos, punições, incentivos, prioridades, entre tantos outros.
Se pensarmos, no entanto, quais outros protagonistas influenciam em decisões e nos rumos que uma sociedade toma, eles não são os únicos atores políticos. São também atores políticos os lideres de movimentos sociais. Para citar nomes grandes, Mandela e Martin Luther King. São também as figuras religiosas, desde o papa até o pastor local. São os sindicatos, são as câmaras de comércio, são as ONGs, os institutos de pesquisa, as organizações internacionais. Todos esses, e outros mais, são capazes de tomar e influenciar decisões nos mais diversos campos. Decisões essas que impactam direta e indiretamente a vida de todos ao redor alterando regras e/ou comportamentos. Isso, por sua vez, molda a forma como vivemos em sociedade e desenvolvemos a nossa economia.
A política somos todos nós
Olhando para a história da humanidade, todos os rumos são decididos por escolhas. Seja de dirigentes, seja de um povo, seja de individuos. O poder de decisão de dirigentes é óbvio e já discutimos eles no ambiente dos políticos. Os povos, em conjunto, tem capacidade de se organizar, criar estruturas, institutuições, de extingui-las, de eleger governantes, demove-los, de se rebelar, de causar grandes revoluções, silenciosas ou por meio de guerras. Acredito, porém, que o ator político mais desconsiderado seja o indivíduo.
O grau mais baixo, e ainda o mais importante, de decisões políticas, é o indivíduo. Ele decide como e quando vai consumir, de forma a ser mais (ou menos) responsável, mais (ou menos) sustentável. Decide como vai gastar ou poupar seu dinheiro. Decide como e se vai votar. Decide se vai fazer parte de alguma organização ou coletivo, se vai se manifestar, se vai apoiar ou criticar o governo, se vai poluir mais (ou menos), se vai boicotar algum organização ou comércio. Pode às vezes parecer que não, mas todas essas decisões de individuos, quando somadas, são o que definem todos os rumos da humanidade. É só olhar pra história.
Toda decisão, no fim, é política.
Infelizmente (ou felizmente), a conclusão é que toda decisão, individual ou coletiva, é política. E por consequência, tudo o que resulta disso, é política também. A água que bebemos, o ar que respiramos, o salário que ganhamos, a remuneração pelo empreendimento, o acesso à educação, a facilidade de fazer negócios, as regras que seguimos, o lixo que geramos, os governantes que elegemos, as viagens que fazemos, o acesso à saúde, o mercado que fazemos. Absolutamente tudo é impactado por uma série de pequenas ou grandes decisões diárias de todos nós. Não há como fugir.
Eu acredito piamente que o desgosto generalizado pelo conceito de “tudo é político” seja o peso que isso traz para a vida. Obriga a gente a se responsabilizar por exatamente tudo o que fazemos. E quem gosta de assumir uma infinidade de responsabilidades?
A ideia aqui não é criar uma conclusão do tipo “seja você o agente da mudança que quer ver no mundo”, nem nenhum tipo de papo de coach. Também o objetivo não discordar do fato de que ficamos muitas vezes à mercê de atores muito maiores que nós, ou de criar uma narrativa de “David vs. Golias”.
O objetivo é esclarecer que a política vai muito além do que estamos acostumados a ver sobre o mundo do que chamamos de “os políticos”. É de mostrar como a política é mais ampla do que Brasilia e como permeia todas as esferas da nossa vida – inclusive e aqui, talvez, sobretudo, nos mercados e investimentos. Por fim, é trazer a mensagem de a forma que vivemos, a politica como um todo, a economia, e investimentos, andam juntos. E é sobre isso que falaremos todos os meses nessa coluna – os laços indissociáveis entre eles e sobre todos os impactos que isso traz.