Cenário Internacional
Recentemente, observando as discussões no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, emergiu como tema central a Inteligência Artificial Generativa (IA) e seus impactos nos modelos de negócios, empregos e na sociedade em geral.
A crescente expectativa em torno da IA baseia-se na promessa de significativos ganhos de produtividade. A previsão é que essa tecnologia inovadora possa assumir uma variedade de tarefas atualmente desempenhadas por seres humanos, interagindo de forma natural com os usuários e acessando vastos conjuntos de dados provenientes de diversas fontes.
Na área da medicina e educação, vislumbram-se avanços significativos, incluindo diagnósticos mais precisos e personalização do conteúdo educacional. Contudo, surgem inquietações, especialmente no que tange ao impacto na empregabilidade, privacidade, vieses da ferramenta e seu uso ético.
A questão do emprego suscita divergências, com alguns defendendo que a IA criará novas funções, enquanto outros temem um aumento expressivo do desemprego. A história das revoluções tecnológicas oferece perspectivas ambíguas, demandando um equilíbrio entre otimismo e cautela diante do avanço tecnológico.
Questões éticas e de privacidade ganham destaque, incluindo o uso de dados pessoais, a orientação de escolhas por algoritmos em programas para crianças e a possibilidade de replicar vieses sociais na IA. Embora essas preocupações careçam de respostas claras, há a esperança de que regulamentações sólidas possam abordar esses desafios sem prejudicar o progresso tecnológico.
O Fórum também destacou a influência da IA em diversas áreas, desde a transição energética até a atenuação das mudanças climáticas e escaladas geopolíticas. Prevê-se um aumento exponencial nos investimentos em semicondutores e centros de dados nos próximos anos, impactando até mesmo o setor imobiliário em algumas regiões.
Apesar da predominância da IA nas discussões, outras preocupações, como transição energética, descarbonização da economia, riscos climáticos e inclusão econômica, estiveram no centro das atenções. O ambiente econômico, embora marcado por conflitos e desafios persistentes, demonstrou uma certa leveza em comparação com anos anteriores.
No cenário global, há otimismo quanto ao suave desempenho das economias americana e europeia, refletindo em juros cadentes e menor aversão ao risco para os países emergentes.
Em meio ao tema central do Fórum, a “Reconstrução da Confiança”, persiste o desejo, embora com incertezas. As cicatrizes deixadas pela pandemia e conflitos internacionais exigem uma abordagem cautelosa, com países e empresas operando em modo de autoproteção. Apesar dos desafios, a confiança na economia brasileira permanece sólida, sustentada por reformas e resiliência pós-pandemia.
Cenário Doméstico
O governo recentemente lançou uma nova política industrial, justificando-a com a necessidade de fortalecer a indústria, superar o atraso produtivo e tecnológico desde os anos 1990, e combater a desindustrialização. A proposta, que prevê R$ 300 bilhões em financiamento até 2026, gera reflexões sobre a eficácia dessas iniciativas, dado o histórico de políticas industriais no país que, apesar de significativos investimentos, não têm alcançado êxito na promoção da reindustrialização, adensamento de cadeias produtivas ou aumento das exportações de produtos de alta complexidade.
Surge a questão fundamental sobre a abordagem correta do Estado no desenvolvimento industrial. Deve-se atuar por meio de subsídios e apoio financeiro, utilizando bancos públicos, ou promover sistemicamente ganhos de produtividade total dos fatores de produção? A promoção da inovação e o desenvolvimento de cadeias de fornecedores devem ser forçados pelo Estado, ou seria mais adequado criar condições para que investimentos privados ocorram naturalmente?
Além disso, é crucial definir o conceito de “indústria” na nova economia, que cada vez mais inclui serviços tecnológicos altamente especializados. A defesa do “conteúdo local” pode entrar em conflito com a promoção do conhecimento local, sugerindo a importância de focar no “knowledge content” em vez do “local content”. Em um mundo dominado pelo “software” mais do que pelo “hardware”, é imperativo adaptar as abordagens tradicionais.
O renomado economista Dani Rodrik e co-autores, em seu recente artigo “The New Economics of Industrial Policy”, exploram uma ampla revisão de políticas industriais. Destacam a necessidade de políticas mais abrangentes do que apenas subsídios ou proteção comercial, ressaltando a importância de políticas públicas voltadas para a produtividade nos serviços.
No contexto brasileiro, destacam-se três problemas. Primeiramente, o desafio fiscal do país limita a capacidade de experimentar baixas taxas de juros reais e estímulos ao investimento privado de longo prazo. O risco de repetir erros passados, como empréstimos subsidiados do BNDES, que resultaram em déficits públicos, merece atenção.
Em segundo lugar, o Brasil investe apenas metade do necessário em infraestrutura, afetando famílias e empresas. O desafio vai além do parque industrial e exige investimentos significativos em logística, energia, e infraestrutura geral.
Por fim, em um contexto de transição para uma economia de baixo carbono, a nova política industrial brasileira parece se intrometer em áreas mais apropriadas ao setor privado. A promoção de tecnologias eficientes em termos energéticos e práticas ambientais deveria ser uma decisão empresarial, enquanto o papel do Estado poderia se concentrar na regulação de mercados e estímulos à recuperação de áreas degradadas, especialmente na Amazônia.
Em resumo, a nova política industrial levanta questionamentos cruciais sobre a abordagem governamental e a adaptação necessária às mudanças na economia global. O sucesso dependerá da capacidade de superar desafios fiscais, investir em infraestrutura e encontrar um equilíbrio adequado entre intervenção estatal e estímulo à inovação do setor privado.