O Comitê de PolÃtica Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, na noite de ontem (11), que elevou a taxa Selic em 100 pontos-base (1,00 ponto percentual), para 12,25% ao ano, em decisão unânime.
O movimento foi superior ao projetado pela grande maioria dos especialistas, com o consenso estimando alta de 75 pontos-base (0,75 ponto percentual), apesar de alguns deles terem atualizado suas perspectivas recentemente para um aumento de maior intensidade.
Além disso, o Copom ainda sinalizou que, mantendo-se o cenário atual, mais duas altas de mesma magnitude devem acontecer nas duas primeiras reuniões do ano que vem, o que levaria a taxa básica de juros brasileira a 14,25% ao ano.
“Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, afirma o comunicado divulgado junto do anúncio.
Mesmo indicando mais duas altas fortes à frente, o comitê não descarta novos avanços no futuro, afirmando que “a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensÃveis à atividade econômica e à polÃtica monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
A postura mais dura (hawkish, no jargão do mercado) é respaldada na perspectiva de que “o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior”.
“Persiste, no entanto, uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”, explica.
No balanço de riscos, os integrantes do comitê citam a desancoragem das expectativas de inflação por um perÃodo mais prolongado, a resiliência da inflação de serviços e uma conjunção de polÃticas econômicas externa e interna “que tenham impacto inflacionário”, usando como exemplo “uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada” como riscos de alta.
Já os riscos de baixa são uma possÃvel desaceleração mais acentuada da economia global e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global “se mostrarem mais fortes do que o esperado”.
Sobre a polÃtica fiscal do paÃs, o comunicado afirma que o Copom “tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da polÃtica fiscal impactam a polÃtica monetária e os ativos financeiros”.
“A percepção dos agentes econômicos sobre o recente anúncio fiscal afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. Avaliou-se que tais impactos contribuem para uma dinâmica inflacionária mais adversa.”, comenta.
Apesar de ter sido levemente pego de surpresa, o mercado gostou da postura mais dura do Copom.
O estrategista-chefe da SPCAP Investimentos, Fabio Susteras, comentou que a perspectiva de uma polÃtica monetária mais rigorosa é consistente com as projeções do colegiado, que estima um IPCA de 4,0% no segundo trimestre de 2026, horizonte relevante para a polÃtica monetária.
De acordo com ele, as projeções indicam que uma taxa Selic em 13,75% ao ano, como previa boa parte do mercado no começo do novo ciclo de alta, “seria insuficiente para assegurar a convergência inflacionária”.
“Além disso, as sinalizações futuras visam reforçar a credibilidade de GalÃpolo, especialmente em um momento em que a âncora fiscal do paÃs mostra sinais de fragilidade”, acrescenta.
Para a consultoria Capital Economics, o anúncio de duas novas altas de 100 pontos-base (1,00 ponto percentual), levando a taxa Selic a 14,25% ao ano deve ser suficiente para a ancoragem das expectativas de inflação e subi-la para além desse patamar “parece improvável”, mas admite que isso deve depender da postura do governo.
Por outro lado, Flavio Serrano, do BMG, acredita que o Copom deve anunciar, além das duas altas de mesma magnitude no começo do ano que vem, uma adicional de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) em Maio, levando a taxa Selic para 14,75% ao ano.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, vai além, projetando que o BC deve subir a taxa básica de juros brasileira para 15,00% ao ano.