O Banco Central divulgou, nesta terça-feira (17), a ata da última reunião de seu Comitê de PolÃtica Monetária (Copom).
Na ocasião, foi decidido que a taxa Selic seria elevada em 100 pontos-base (1,00 ponto percentual), para 12,25% ao ano, e deixar já projetada mais duas altas de mesma intensidade para as próximas reuniões, o que deve levar a taxa básica de juros brasileira para 14,25% ao ano.
A decisão pelo aumento e pelo direcionamento (guidance, no jargão do mercado) foi unânime, de acordo com o documento.
“O Comitê decidiu, unanimemente, pela elevação de 1 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, afirma a ata.
Ainda que sejam movimentos intensos, o Copom não dá qualquer tipo de direcionamento sobre o fim do ciclo de alta, o que pode fazer com que a Selic vá além deste patamar.
“A magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensÃveis à atividade econômica e à polÃtica monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, pontua.
A aceleração no ritmo de elevação da taxa básica de juros brasileira é justificada por um cenário de inflação “mais desafiador em diversas dimensões”, já que o “ritmo de crescimento do consumo das famÃlias e da formação bruta de capital fixo indica uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso, apesar da polÃtica monetária contracionista”.
Além disso, o Copom ainda destaca que o cenário de inflação no curto prazo também se deteriorou, puxado pelo aumento nos preços dos alimentos e que este “tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”, enquanto a inflação de serviços, que é menos impactada pela polÃtica monetária, segue “acima do nÃvel compatÃvel com o cumprimento” da meta de inflação de 3,0%.
“Enfatizou-se que os vetores inflacionários se intensificaram desde a reunião anterior, como hiato do produto mais positivo, o mercado de trabalho ainda mais dinâmico, a nova depreciação cambial, a inflação corrente mais elevada e as expectativas de inflação mais desancoradas, tornando a convergência da inflação à meta mais desafiadora”, diz.
Com relação à polÃtica fiscal, o Copom “manteve a firme convicção de que as polÃticas [aplicadas] devem ser previsÃveis, crÃveis e anticÃclicas”, defendendo que elas devem caminhar em conjunto com a polÃtica monetária, de forma “harmoniosa”.
“O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dÃvida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da polÃtica monetária”.
Já com relação ao cenário externo, os integrantes do comitê destacam que a situação se tornou mais desafiadora também, principalmente por conta de mudanças na condução da polÃtica econômica dos Estados Unidos com o inÃcio do mandato de Donald Trump, no ano que vem.
Essas incertezas exigem “maior cautela” na condução da polÃtica monetária doméstica, avalia o Copom.
De forma geral, o documento foi considerado em um tom ainda mais duro do que o comunicado que acompanhou o anúncio de elevação da taxa Selic, mas não trouxe qualquer surpresas além da unanimidade dos integrantes do comitê nas decisões de alta e de manter um guidance.
Além disso, o estrategista-chefe da SPCAP Investimentos, Fabio Susteras, destaca, também, os motivos pelos quais levaram a um aumento dessa magnitude, com a decisão sendo respaldada tanto em questões de curto e médio prazo, como a situação fiscal e a deterioração do cenário inflacionário, quanto em questões de longo prazo, mais estruturais, como as incertezas com a eleição de Donald Trump.
Por isso que, nesse contexto, a decisão acabou sendo unânime entre os integrantes do Comitê.