Em meio à espera do pacote de corte de gastos do governo, o Banco Central (BC) divulgou, nesta segunda-feira (11) seu relatório fiscal mensal referente a Setembro.
O setor público consolidado apresentou déficit primário de R$7,34 bilhões no período, bem abaixo dos R$21,4 bilhões registrados em Agosto.
O governo central foi responsável por déficit de R$3,974 bilhões, enquanto Estados & Municípios registrou resultado negativo de R$3,173 bilhões e as Estatais os R$192 milhões restantes.
Apesar disso, a dívida bruta do país em comparação com o Produto Interno Bruto (PIB), indicador que calcula o endividamento público, recuou 0,2 ponto percentual, para 78,3%, ante expectativa de alta de 0,4 ponto percentual, para 78,9%.
Tiago Sbardelotto, da XP, destacou que o desempenho apresentado indica uma melhora relevante no resultado fiscal do país, mas que a dinâmica apresentada pelas contas dos municípios preocupa, indicando uma piora.
O economista projeta que a dívida bruta do país deve encerrar o ano em 78,6% do PIB, demonstrando a necessidade de apresentar um corte de despesas robusto.
O time de análises do Inter afirmou que o déficit estrutural segue próximo de 1% do PIB, bem acima da meta fiscal deste ano, o que deve continuar impactando os resultados do ano que vem.
“O adiamento do anúncio das medidas de ajuste continua pressionando o dólar e consequentemente a expectativa de inflação e juros pelo mercado”, afirmam.
“No atual cenário precificado, com a Selic voltando para o patamar de 13%, o crescimento da atividade em 2025 também pode ficar comprometido e pressionar ainda mais a deterioração fiscal”.
A instituição destaca, ainda, que o país pode ter mais um ano fiscal expansionista e monetário contracionista, porém com efeito cumulativo negativo para o crescimento econômico.
Para o Itaú BBA, “a arrecadação tem se mostrado forte, mas os riscos fiscais continuam elevados, considerando a percepção de que as despesas obrigatórias crescendo acima do limite do arcabouço fiscal impedirão seu cumprimento até 2026 e a dificuldade em obter uma trajetória de convergência de resultados primários”.
“Para que haja uma maior confiança na sustentabilidade do arcabouço fiscal e subsequente queda da percepção de risco, estimamos ser necessário um ajuste de despesas de pelo menos R$ 60 bilhões, sendo R$ 25 bilhões em 2025 e R$ 35 bilhões em 2026”, afirmam os analistas da instituição.
“Entendemos ser importante conjugar essas medidas com impacto de curto prazo que garantam o cumprimento do arcabouço em 2026 com mudanças estruturais que garantam um crescimento menor de despesas no médio prazo, com redução de indexações e vinculações das despesas públicas, além de reforçar a transparência e credibilidade das regras fiscais”.
Em Brasília, o pacote de corte de gastos que foi prometido pelo governo entra em sua terceira semana de debates sem qualquer conclusão.
Rumores indicam que o presidente Lula entende a necessidade de fazer esse ajuste e de passar confiança com relação ao cumprimento das metas fiscais estabelecidas pelo arcabouço, mas que não planeja que essa conta seja paga “no lombo do povo”, querendo medidas que também atinjam as camadas mais altas da sociedade.
Por enquanto, nada de concreto foi comunicado por parte do Planalto, apesar de ministros já terem manifestado algumas visões que indicam que algumas das possíveis mudanças projetadas pelo mercado podem estar descartadas.