O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou, no começo da noite de ontem (6), que elevou a taxa Selic em 50 pontos-base (0,50 ponto percentual), para 11,25% ao ano, em decisão unânime.
O aumento foi em linha com o esperado pelos especialistas, bem como o posicionamento de todos os integrantes do comitê.
O comunicado que acompanha o anúncio foi praticamente o mesmo da última reunião, quando o Copom elevou a taxa Selic em 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), para 10,75% ao ano, com exceção do parágrafo que aborda a situação fiscal do país.
“O Comitê tem acompanhado com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.”, afirma a publicação.
Além disso, o documento afirma que o cenário doméstico segue marcado por “resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o que demanda uma política monetária mais contracionista”.
“Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 11,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, afirma.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”.
Sendo assim, o Copom destaca que o ritmo de ajustes futuros, bem como a magnitude do ciclo total de alta da Selic serão ditados “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
O posicionamento chamou a atenção dos especialistas.
Para Andréa Damico, da Armor Capital, o comunicado em si foi mais duro, especialmente quando se trata da situação fiscal do país.
Ela pontua que o aumento da projeção de inflação demanda uma elevação maior da taxa de juros, o que fez com que a gestora revisasse suas estimativas de Selic terminal do ciclo de 12,5% ao ano para 13,00% ao ano.
Marcelo Fonseca, da REAG Investimentos, partilha da mesma visão e destaca que o BC pode acelerar o ritmo de altas caso a inflação e suas perspectivas continuem a apresentar deterioração.
O economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, acredita que o BC deixou em aberto a possibilidade de elevação da taxa Selic em 75 pontos-base (0,75 ponto percentual), principalmente quando afirma que o ritmo e a magnitude dos ajustes serão ditados pela convergência da inflação à meta.
Sendo assim, ele prevê que ela deve atingir 12,50% ao ano até Março do ano que vem.
Christian Thorgaard, economista-chefe da Skopos, destaca que o BC acenou de forma mais clara com relação à situação fiscal do país e a importância de que sejam apresentadas e executadas medidas estruturais.
Ele afirma que, sem essas medidas, será difícil suavizar o atual ciclo de alta da taxa básica de juros brasileira, mas que o BC parece disposto a “comprar tempo” para esperar.
Da mesma maneira, Marcos Caruso, do Santander, comentou que o texto do comunicado sugere que o Copom está amarrado na “apresentação e execução” das medidas fiscais e que os próximos passos a serem dados estão em aberto.