A Moody’s, uma das principais agências de classificação de riscos do mundo, anunciou, no fim da tarde de ontem (1), que elevou a nota de crédito do Brasil de ‘Ba2’ para ‘Ba1’, mantendo a perspectiva ‘Positiva’.
Isso faz com que o país esteja a uma elevação do chamado Grau de Investimento da agência.
De acordo com o comunicado, a atualização “reflete melhorias materiais de crédito que esperamos que continuem, incluindo um desempenho de crescimento mais robusto do que o avaliado anteriormente e um histórico crescente de reformas econômicas e fiscais que emprestam resiliência ao perfil de crédito, embora a credibilidade da estrutura fiscal do Brasil ainda seja moderada, conforme refletido em um custo relativamente alto da dívida”.
“Por sua vez, um crescimento mais robusto e uma política fiscal consistentemente aderente à estrutura fiscal permitirão que o ônus da dívida se estabilize no médio prazo, embora em níveis relativamente altos”, acrescenta.
A agência revisou suas perspectivas de crescimento para a economia brasileira neste ano para 2,5% e acredita que, no médio prazo,o país terá “um desempenho de crescimento muito mais sólido em comparação aos anos pré-pandemia, em parte resultado de reformas estruturais implementadas ao longo de sucessivas administrações relacionadas a uma série de áreas políticas”.
Além disso, ela acrescentou que o desempenho econômico do país entre 2022 e 2024 foi “surpreendente” refletindo “fatores cíclicos e o impacto de reformas estruturais”.
“Este ano, um crescimento mais forte se expandiu para os setores da indústria e de serviços e foi apoiado por maiores investimentos, reforçando nossas expectativas de que um crescimento mais robusto persistirá”, afirma.
“Nos próximos anos, prevemos que o crescimento permanecerá amplo, com a demanda doméstica impulsionada por um mercado de trabalho relativamente forte — em comparação com o passado do Brasil — e salários reais mais altos”.
Sobre a situação fiscal do país, a agência pontua esperar “que os resultados fiscais primários melhorem gradualmente em linha com as metas do governo nos próximos 2-3 anos”.
“Na ausência de grandes choques, a conformidade com a estrutura fiscal levará a dívida pública do Brasil a se estabilizar no médio prazo, em torno de 82% do PIB”, projeta.
Já com relação à perspectiva ‘Positiva’, a agência afirmou que “reflete a possibilidade de que o crescimento estável e a conformidade com a estrutura fiscal ajudarão a aumentar a credibilidade institucional e reduzir os custos de empréstimos mais acentuadamente do que assumimos atualmente”.
“Por sua vez, um menor custo da dívida teria um impacto positivo na trajetória da dívida do governo brasileiro, especialmente se combinado com um crescimento mais robusto do que esperamos atualmente, permitindo uma redução no ônus da dívida no médio prazo”, acrescenta.
O anúncio surpreendeu os especialistas.
Para Nicolas Borsoi, da Nova Futura, o anúncio deve fazer com que o mercado comece a antecipar um upgrade das demais agências de classificação de riscos que são referência, o que deve reduzir parte do prêmio de risco dos ativos brasileiros.
O ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria, Maílson de Nóbrega, destacou os pontos levantados pela agência, considerando-os pertinentes.
Apesar disso, ele destaca que a situação fiscal do país é um fator destoante, que não preenche as expectativas da agência e que o esperado grau de investimento não deve sair durante a gestão do presidente Lula.
Por outro lado, Carlos Karwall, da Oriz Partners, acredita que há um certo grau de otimismo da Moody’s quando projeta que a dívida pública deve se estabilizar próximo dos 82% do PIB, dado o aumento da dívida e os juros reais elevados.
Ainda assim, para ele o grau de investimento se tornou possível com a manutenção da perspectiva ‘Positiva’.
O estrategista-chefe da SPCAP Investimentos, Fabio Susteras, destaca que o anúncio “contrariou o mercado como um todo”, que segue preocupado com o fiscal.
“Surgiu uma contradição entre o que a Moody’s está trazendo e os preços de mercado, que estão mais alinhados”, afirmou ele, no Café com Mercado desta manhã.
Da mesma maneira, Solange Srour, da UBS Global Wealth Management, também se mostrou surpresa, destacando que o momento é de piora fiscal, com mercado preocupado com a dinâmica da dívida e políticas parafiscais.