A gestora de recursos independente GTI publicou, na semana passada, sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral.
Nela, a gestora faz um comparativo do cenário global com o cenário doméstico, destacando, lá fora, o início do ciclo de cortes na taxa de juros dos Estados Unidos.
“A inflação nos EUA segue perdendo força, apesar do núcleo do CPI seguir ainda acima dos 2% pretendidos pelo FED. O risco de um hard landing, entretanto, parece mais distante”, comenta.
Além disso, a publicação também dá ênfase às medidas de estímulos anunciadas pela china, que serviram para melhorar “a dinâmica da maioria das commodities, principalmente o minério de ferro e o alumínio, ambas tendo se valorizado em mais de 8% no mês”.
Por outro lado, o avanço do conflito no Oriente Médio, com a ofensiva de Israel contra o Hezbollah e o ataque iraniano ao território israelense, mantém um cenário geopolítico incerto que afeta, principalmente, os preços do barril de petróleo.
“Como na maioria dos conflitos complexos, sabemos como eles começam, mas temos muita dificuldade em saber como ou quando acabarão”, pontua.
Olhando à frente, a gestora ainda acrescenta que as eleições presidenciais dos Estados Unidos devem começar a ganhar espaço no mercado, dado o cenário apertado que os principais institutos de pesquisa do país apontam.
“A depender dos resultados, saberemos se os EUA voltarão a ser um protagonista mais decisivo nos principais conflitos de hoje, com a vitória de Donald Trump, ou se a tendência que ganhou corpo durante o governo Biden permanecerá, deixando um ‘vácuo de poder’ a ser ocupado”, comenta.
Já olhando para o ambiente doméstico, o destaque fica para a elevação da taxa Selic em 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), na contramão do FED, e o tom mais duro (hawkish, no jargão do mercado) do que o esperado adotado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
“Quando o mercado chegou a precificar 3 elevações de 0,25%, a ata da última reunião deixou claro que há uma assimetria pendendo para um maior risco inflacionário, o que levou o mercado a trabalhar com mais 2 elevações de 0,5% para as reuniões remanescentes deste ano”, afirma a gestora.
A GTI argumenta que a elevação da taxa de juros foi ocasionada por um mercado de trabalho mais apertado, destacando a queda da taxa de desemprego do país par 6,6%, menor patamar desde Dezembro de 2014, e para uma atividade econômica que segue se expandindo, ambos ocasionados por uma política fiscal expansionista por parte do governo.
“O mercado já trabalha com um aperto monetário dentro de um ciclo mais longo de queda nas taxas de juros, provocado, principalmente, por uma Política Fiscal Expansionista e que, na prática, se mostra bem menos responsável do que na teoria. Não diria que estamos sob ‘luz vermelha’, mas certamente há uma luz amarela e que começou a piscar com maior intensidade”, afirma.
“Está claro, por hora, que a equipe que comanda a Fazenda não tende a tomar nenhuma medida irresponsável, mas oferecem o mínimo e não o desejável para que tenhamos um horizonte mais previsível, deixando o país mais exposto aos riscos externos”.
Olhando para o seu portfólio, a gestora destaca as performances da Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4) e CBA (CBAV3), que tiveram alta entre 4,4% e 10%, em resposta à elevação dos preços das commodities que elas produzem.
Por outro lado, a Brava Energia (BRAV3) teve queda de 7%, pressionada pelo recuo do barril de petróleo no mês e “potencializada pela paralização da produção no campo de Papa Terra, com previsão de retomada para Dezembro”.
“As ações da empresa perderam um terço de seu valor em Setembro e subtraíram 0,8% de nosso resultado”, argumentam.
Olhando para o futuro, a gestora afirma continuar construtiva com suas posições em empresas produtoras de commodities, “que tendem a se beneficiar da combinação de uma retomada de atividade na China, com o início do ciclo de queda de Juros nos EUA”.
“Já no mercado doméstico, temos exposição às empresas voltadas a atividade interna, cuja operações são menos sensíveis ao ciclo econômico”, acrescenta.
No mês, os fundos GTI Dimona, GTI Haifa e GTI Nimrod registraram queda de -2,44%, -2,40% e -1,67%, respectivamente, enquanto o Ibovespa caiu -3,08%.