A gestora de recursos independente Ibiuna publicou ontem (2) sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral.
Nela, a gestora destaca a divergĂŞncia entre as perspectivas para a polĂtica monetária do mundo e do Brasil, com destaque para a norte-americana.
“No G10, o destaque foi o discurso do Chairman do Federal Reserve Jay Powell em que sacramentou a expectativa de inĂcio do ciclo de queda de juros na reuniĂŁo de 18 de setembro”, comenta.
“Ele tambĂ©m sinalizou mudança no foco do BC americano, de preocupações com a inflação para uma desaceleração mais acentuada do mercado de trabalho, de forma que as estatĂsticas de emprego passarĂŁo a ditar a precificação de ritmo e orçamento total de cortes”.
Com isso, além do favorecimento aos ativos de risco, enfraquecimento do dólar, queda da curva de juros norte-americana e uma melhor performance do mercado de crédito privado, ela também prevê que outros BCs, principalmente do Ocidente, podem ver menos risco em avançar em seus respectivos afrouxamentos monetários.
Apesar de enxergarem boas oportunidades nos prĂłximos 12 meses, conforme os Estados Unidos reduz sua taxa de juros, a Ibiuna optou por se manter cautelosa no curto prazo por trĂŞs fatores: uma possĂvel desaceleração mais abrupta do mercado de trabalho norte-americano, o que levaria a um ciclo de cortes mais acelerado e, em paralelo, a um movimento de aversĂŁo ao risco, as eleições norte-americanas, que pode trazer volatilidade extra, e a antecipação, por parte dos mercados, da flexibilização monetária do FED.
Por outro lado, por aqui, a gestora afirma ter ficado claro “que os juros precisam subir, na contramĂŁo do resto do mundo”.
“Isso Ă© curioso já que o Brasil deveria se beneficiar de maiores fluxos globais de capitais nessa situação, e tambĂ©m porque o nĂvel de 10,5% para a taxa Selic nos sugeriria um patamar contracionista”, afirma.
“Os sinais vitais da economia brasileira apontam no entanto para uma Selic baixa para o quadro atual: PIB acima do potencial, taxa de desemprego na mĂnima histĂłrica, massa salarial em forte crescimento, dĂ©ficit de conta corrente em alta, depreciação de 14% do câmbio esse ano, inflação prĂłxima ao teto de seu intervalo de flutuação, expectativas desancoradas e projeções de inflação pouco ou muito acima da meta”.
Ela argumenta que esse cenário atĂpico foi ocasionado, aparentemente, pelo forte estĂmulo fiscal dos Ăşltimos dois anos, e afirma que “voltamos ao Brasil do passado nĂŁo tĂŁo distante onde uma postura fiscal demasiado expansionista demandava uma postura monetária mais rĂgida, gerando custos maiores para atingir o mesmo equilĂbrio de crescimento e inflação no paĂs”.
“A relutância das autoridades fiscais em reconhecer esse quadro e a postura reativa do Banco Central explicam a pressĂŁo sobre o câmbio e o maior prĂŞmio de risco observado na curva de juros”, pontua.
“Assim, nĂŁo vemos o Brasil bem posicionado para se beneficiar da mudança de postura pelo Fed e mantemos posições defensivas nos ativos do paĂs”.
Com isso, no mercado de renda fixa local a gestora reduziu sua posição aplicada em juros reais e adicionou posições tomadas em juros nominais, alĂ©m de ter mantido trades de valor relativo nas curvas de juro real e de implĂcitas, enquanto lá fora ela reduziu parcialmente suas posições aplicadas em paĂses desenvolvidos e emergentes “selecionados”.
No mercado de câmbio, a Ibiuna mantém posição vendida em real brasileiro e peso mexicano.
“Seguimos buscando oportunidades atravĂ©s de trades táticos que explorem alavancagem via opções de curto prazo”, acrescenta.
Já no mercado de renda variável, ela mantĂ©m uma exposição pequena a Ăndices futuros de ações norte-americanos e sua posição em ações brasileiras “mirando a captura de alfa puro via posições longshort nĂŁo direcionais”.
“Seguimos tambĂ©m com a alocação de risco aos livros de crĂ©dito, com posições no Brasil e em emergentes geridas por nosso time de crĂ©dito corporativo; e no livro sistemático, explorando estratĂ©gias geridas por nosso time quantitativo”, conclui.
O Ibiuna Hedge FIC FIM, principal fundo da casa, registrou rentabilidade de 0,70% em Agosto, equivalente a 81% do CDI do perĂodo, e acumula alta de 0,51% no ano, cerca de 7% do seu Ăndice de referĂŞncia.