A gestora de recursos independente GTI publicou, na semana passada, sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral.
Nela, a gestora destacou a redução das expectativas relacionadas a futuros cortes na taxa de juros norte-americana.
“A curva de juros precifica mais um corte de 0,25% até a reunião de março e eventualmente um segundo corte até o meio do ano, o que terminaria o ano em 4%”, comentou.
Com isso, ela analisou que os rendimentos dos títulos públicos dos Estados Unidos voltaram a oferecer mais de 4,5% ao ano, o que acabou valorizando o dólar quando comparado às mais diversas moedas.
Por aqui, além do impacto do cenário “avesso ao risco” do exterior, a gestora também comenta sobre a forma como o mercado recebeu o pacote fiscal anunciado pelo governo no final de Novembro, destacando que ele “não fluiu com a devida tranquilidade”.
Isso porque, além de contar com medidas insuficientes, também veio junto do anúncio de uma Reforma Tributária que, caso aprovada, reduzirá drasticamente a arrecadação, o que poderia aprofundar ainda mais o problema fiscal.
“O sentimento que tomou o mercado foi de que o governo Lula já estaria levando em conta o cálculo político do rombo fiscal e consequente aceleração inflacionária”, explica.
“E ainda assim estaria considerando que os votos angariados através do populismo seriam suficientes para compensar os danos causados pelas finanças públicas”.
Ainda que não desconsiderem essa tese, a GTI acredita que o governo, na verdade, “segue olhando mais para o retrovisor”, cuja atividade econômica e taxa de desemprego nas mínimas parece mais reconfortante, enquanto “subestima a atual dinâmica de fluxos de capital na economia e o potencial efeito negativo que as expectativas frustradas possam trazer”.
“O atual déficit operacional é elevado, se aproximando de 8% ao ano. Com a Dívida bruta em torno de 80% do PIB, ainda que a inflação estivesse rodando na meta de 3% ao ano, precisaríamos crescer em torno de 4% ao ano para manter estável a relação entre Dívida e PIB”, projeta.
“Esperamos para 2025 uma desaceleração do crescimento para 2% ao ano, de forma que a relação entre Dívida e PIB se elevaria em mais de 3% ao ano”.
A publicação comenta que esse cenário levaria a um contexto de dominância do fator fiscal sobre o monetário, que perderia sua eficácia numa tentativa de estabilização da moeda.
“Não afirmo que seja exatamente esta percepção de ‘Dominância Fiscal’ que esteja por trás do comportamento dos preços dos ativos ao longo do mês de Dezembro”, afirma.
“Certamente o imobilismo do Poder Executivo em ao menos reconhecer que existe um grave problema fiscal e que deveria ser adequadamente endereçado através de um relevante corte de despesas vem alimentando essa percepção”.
Além disso, a gestora também destaca o impasse entre os poderes Judiciário e Legislativo com relação às emendas parlamentares que, em sua visão, “pode levar a maiores dificuldades nas futuras negociações [do Executivo] com o Congresso Nacional”.
Sendo assim, ela conclui a carta afirmando que o momento é de “alerta”.
“Um esforço combinado na direção correta pode rapidamente trazer a locomotiva de volta aos trilhos, porém ignorar estes sinais de desequilíbrio terá como provável consequência a aceleração da inflação”, pondera.
Em Dezembro, os fundos GTI Dimona, GTI Haifa e GTI Nimrod registraram quedas de 5,31%, 5,18% e 4,38%, respectivamente, encerrando o ano de 2024 com baixas de 9,58%, 8,69% e 6,57%, enquanto o Ibovespa caiu 4,29% no mês e 10,36% no ano.