A gestora de recursos Kinea, vinculada ao Itaú, publicou, nesta semana, sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral.
Nela, a gestora traça um paralelo entre o livro O Conde de Montecristo, de Alexandre Dumas, com os fatos ocorridos em Novembro, mais especificamente com a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Assim como o personagem principal do enredo, Edmond Dantès, Trump foi dado como morto e ressurgiu ainda mais forte, levando a disputa com a atual vice-presidente Kamala Harris.
“O resultado das urnas, que incluiu a Câmara e o Senado, confere mandato amplo para as políticas de Donald Trump: uma pessoa que pretende representar o ‘americano trabalhador médio’, trazendo empregos de volta aos Estados Unidos, ao mesmo tempo que flexibiliza regulação e impostos para empresas, na busca por atrair capital para o país”, comenta.
“Dentre suas promessas, estão a aplicação de tarifas de 10% para importações totais e 60% para as advindas da China, desregulamentação para vários setores e cortes de impostos conjugados com uma redução do tamanho do governo federal”.
Com isso, a Kinea se posicionou de forma a refletir a nova administração da maior economia do mundo, comprada em ações norte-americanas, principalmente em áreas com lucros dentro do país, com destaque para pequenas empresas, “e setores que devem se beneficiar das políticas de Donald Trump, como a provável desregulamentação do setor financeiro e os benefícios que o ‘faça na América’ devem trazer para o setor industrial”.
A gestora ainda afirma que os sinais dados por Trump são de rebalanceamento e eficiência dos gastos públicos, com pouco espaço para aventuras fiscais, enquanto a política comercial do país deve ser mais multilateral quando comparada com o primeiro governo do republicano.
“Consideramos que a maior parte das tarifas deve ser aplicada de modo formal via processo orçamentário no Congresso, fazendo com que elas se tornem receita para financiar parte dos cortes de impostos ao setor corporativo”, projeta.
Com relação aos próximos passos da política monetária norte-americana, a gestora acredita que o Federal Reserve (FED), banco central do país, deve manter o processo de flexibilização monetária no curto prazo, focado no mercado de trabalho desaquecendo, mas que, no ano que vem, a depender dos impactos das políticas aplicadas por Trump, eles podem pausar ou até interromper o ciclo de cortes.
Sendo assim, ela zerou suas posições tomadas na parte longa da curva dos Estados Unidos e, no mercado de câmbio, segue comprada em dólar e vendida em yuan, da China, e em uma cesta de moedas europeias.
Em meio a todo esse contexto, com relação ao Brasil, a gestora destaca que o país “dependerá principalmente de suas próprias ações”.
“Na frase de Shakespeare “o inferno está vazio e os demônios estão todos aqui”, o Brasil necessita andar com as próprias pernas e as respostas que temos até o momento para o desafio adiante são insuficientes”, afirma.
“Embora as medidas do pacote sejam na direção correta de cumprir o arcabouço fiscal, mais uma vez o governo falha em ancorar as expectativas. Mais pautado em pente-fino, e com poucas medidas estruturais, o ajuste de despesas estimado pelo governo em R$ 70 bilhões de reais em 2 anos (0,7% do PIB), na prática deve gerar economia bem menor”.
A Kinea projeta que, à frente, a economia brasileira deve apresentar uma desaceleração que, apesar de ocorrer, será de forma suavizada por conta de uma forte produção agrícola, reajuste real do salário-mínimo e pela defasagem do impacto da política monetária mais apertada sobre a economia.
“Assim, a desaceleração da atividade deve ser leve e não suficiente para tirar a pressão sobre nosso hiato de produto, que deve permanecer bastante pressionado, com desemprego em níveis historicamente muito baixos”, projeta.
“Apostamos em um “pouso suave” da atividade no próximo ano. A demanda doméstica, que responde mais às ações das políticas monetária e fiscal deve apresentar maior desaceleração. Mas, mais uma vez, teremos uma forte produção agrícola, com transbordamentos para outros setores da economia que devem ajudar a mitigar os ventos contrários no número agregado”.
Ainda assim, ela não descarta um cenário mais negativo, acreditando que, nesse caso, o país pode enfrentar um cenário de estag-inflação.
Sendo assim, ela segue vendida em bolsa, “considerando que existem melhores oportunidades no exterior”, enquanto mantém apenas posições táticas na curva de juros, “reconhecendo as incertezas atuais”.
Em Novembro, o fundo Atlas, principal da casa, registrou rentabilidade de 3,51%, acumulando alta de 10,09% no ano, contra 0,79% do CDI, que acumula avanço de 9,85% em 2024.