A gestora de recursos independente Neo publicou hoje (6) sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral.
Nela, a gestora destacou que, em Agosto, o cenário norte-americano “seguiu se encaminhando para uma conjuntura favorável para mercados emergentes, com a consolidação das expectativas de corte de juros a partir de setembro e dados de atividade fortes mitigando o risco de recessão precificado após a leitura decepcionante (em parte por fatores climáticos) do relatório de emprego de julho”.
Esse cenário atrelado à “normalização” da corrida presidencial do país, com a indicação da vice-presidente Kamala Harris para substituir o atual presidente Joe Biden, fez com que o dólar caísse diante da maioria das moedas globais e os títulos de dívida local de emergentes apresentassem o melhor desempenho no ano.
Apesar disso, a gestora analisa que alguns fatores negativos acabaram se sobressaindo no período e dificultando que alguns emergentes acompanhasse essa melhora apresentada.
“No México, o não-recuo na intenção de usar a nova maioria qualificada no congresso para aprovar uma ampla reforma no Judiciário seguiu afastando investidores, levando à desvalorização de 6% do peso contra o dólar”, afirma a publicação.
“No ano, até 30 de agosto, é a moeda que teve o pior desempenho no nosso universo de cobertura, seguida de perto pelo real”.
Olhando para o Brasil, a gestora destaca dois pontos distintos de Agosto: os ruídos na política monetária e fiscal.
“No Banco Central, a impressão de relativa tranquilidade com o nível atual da taxa Selic após a leitura do comunicado da reunião de julho foi desfeita com a ata desta mesma reunião e, posteriormente, com as inúmeras declarações públicas de membros do Copom, em meio à troca da presidência e de vários membros do comitê”, comenta.
Ela destaca que sua perspectiva para a política monetária do país teve uma inversão e, agora, ela projeta que a taxa Selic deve subir já em Setembro, abrindo um ciclo de aumentos graduais que deve chegar a 100 pontos-base (1,00 ponto percentual).
Já com relação à política fiscal, ela se mostra surpreendida com a criação de “um vale gás revisto e ampliado”, que será “implementado por fora do orçamento federal – uma manobra que mina a capacidade do governo de transformar em receita primária sua parte na exploração de hidrocarbonetos e mostra receptividade a políticas de apelo popular driblando o limite de despesas estabelecido pelo arcabouço fiscal”.
Além disso, ela também chama a atenção para o orçamento do ano que vem, que “repete a fórmula” utilizada este ano.
“O orçamento de 2025, apresentado no último dia do mês, repete a fórmula utilizada durante 2024, que não gera ancoragem de médio prazo, não traz revisão significativa de despesas (com exceção do “pente fino” prometido para benefícios sociais) e apoia-se em substancial aumento de receitas (cerca de R$160 bilhões) para viabilizar a meta de resultado primário”, pontua.
Para a Neo, esse cenário faz com que o Brasil contrate volatilidade para o futuro, já que não existe consenso de onde a taxa de juros brasileira deve parar ou se o arcabouço fiscal do país será respeitado.
“Isso torna o risco/retorno de investimentos no país menos atrativo e pode fazer com que o país deixe de aproveitar eventuais períodos de maior otimismo com o cenário global, como foi o caso do mês que passou”, conclui.
O Neo Provectus I, um dos principais fundos da casa, apresentou rentabilidade negativa de -0,19% em Agosto, contra avanço de 0,87% do CDI, seu índice de referência.