A gestora de recursos independente Ibiuna publicou, na semana passada, sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral.
Nela, a gestora afirma acreditar que, apesar da crescente atenção ao cenário polĂtico, com a aproximação das eleições presidenciais norte-americanas, e geopolĂtico, com a elevação das tensões no Oriente MĂ©dio, o que deve continuar a dominando a precificação dos ativos sĂŁo temas relacionados Ă polĂtica monetária, com destaque para a dos Estados Unidos.
“Nos EUA, a queda da inflação e desaceleração da atividade mais rápidos do que esperado apontam para inĂcio do ciclo de cortes de juros em setembro, impulsionando um relaxamento de condições financeiras em todo o mundo”, afirma.
“O receio de que o esperado pouso suave se transforme em um pouso abrupto tambĂ©m entrou no radar influenciando a precificação de cortes atĂ© o fim do ano”.
Na contramĂŁo, a gestora destaca que “o Banco Central japonĂŞs elevou os juros básicos para patamar nĂŁo visto desde 2008 com impacto relevante no Yen e em várias moedas tanto no G10 como no mundo emergente”.
Já por aqui, o destaque segue sendo a situação fiscal do paĂs, com a Ibiuna afirmando que seguimos “em um rumo de deterioração gradual de fundamentos diante da falta de uma âncora fiscal crĂvel”.
“O paĂs Ă© um caso curioso de contraste entre uma situação atual razoável e perspectivas de mĂ©dio prazo com elevada incerteza”, comenta.
“A conjuntura atual Ă© marcada por crescimento e desemprego com trajetĂłria melhor do que esperado, inflação corrente baixa e balança comercial com superávits elevados. Por outro lado, câmbio e projeções e expectativas de inflação estĂŁo em alta refletindo preocupação com a trajetĂłria de deterioração acelerada das contas pĂşblicas”.
Para ela, apesar do foco do mercado estar no cumprimento das regras do Arcabouço fiscal, “a realidade Ă© que mesmo seu cumprimento terá pouco impacto sobre a trajetĂłria de rápida ascensĂŁo da dĂvida pĂşblica nem trará uma perspectiva de sua estabilização em um horizonte de mĂ©dio prazo”.
“A crescente incerteza resultante demanda prĂŞmios de risco em ascensĂŁo a cada oportunidade perdida de apresentar um plano crĂvel para a questĂŁo, como observamos na reavaliação bimestral das contas fiscais no mĂŞs de julho”, explica.
Como resultado, a gestora afirma ter observado uma “persistente” depreciação cambial e alta dos juros longos mesmo em um contexto que já contempla cortes nas taxas de juros das principais economias globais.
“Em adição, a sinalização pelo Banco Central de uma postura reativa quanto ao impacto desses efeitos sobre projeções e expectativas de inflação nos sugere que altas de juros antes do fim do ano se tornarĂŁo inevitáveis”, pontua.
“Essa avaliação aponta para uma performance relativamente mais fraca dos ativos do paĂs versus seus pares e segue orientando uma postura defensiva e cautelosa no posicionamento no Brasil”.
Com isso, no mercado de renda fixa local a gestora segue aplicada em juros reais, comprada em inflação implĂcita e tem feito operações de valor relativo nas curvas de juros real e implĂcita, enquanto lá fora ela reduziu o risco alocado a posições tomadas no JapĂŁo enquanto manteve suas posições aplicadas em paĂses desenvolvidos e emergentes que devem cortar juros atĂ© o final do ano.
No mercado de câmbio, ela segue vendida em real e zerou sua posição em uma cesta de moedas de carrego financiada por
posições vendidas em moedas asiáticas de baixo rendimento, enquanto segue “buscando oportunidades atravĂ©s de trades táticos que explorem alavancagem via opções de curto prazo”.
Já em renda variável, ela mantĂ©m sua pequena exposição a Ăndices futuros de ações dos Estados Unidos, enquanto seu time de equities “mantĂ©m exposição a ações brasileiras mirando a captura de alfa puro via posições long-short nĂŁo direcionais”.
“Seguimos tambĂ©m com a alocação de risco aos livros de crĂ©dito, com posições no Brasil e em emergentes geridas por nosso time de crĂ©dito corporativo; e no livro sistemático, explorando estratĂ©gias geridas por nosso time quantitativo”, acrescenta.
Em Julho, o Ibiuna Hedge FIC FIM, principal fundo da casa, apresentou rentabilidade de 0,56% contra 0,91% do CDI. No ano, o fundo acumula queda de -0,19% enquanto seu principal Ăndice de referĂŞncia tem rentabilidade de 6,17%.