A gestora de recursos Kinea, vinculada ao Banco Itaú, publicou, na semana passada, sua carta mensal destinada aos cotistas de seus fundos e investidores em geral referente a Julho.
Na publicação, a gestora dá destaque ao atentado que o ex-presidente Donald Trump sofreu no começo do mês e os seus impactos nos mercados.
Além disso, ela também dá ênfase ao arrefecimento da inflação no país, “certamente o segundo fato relevante do mês”.
“Pelo segundo mês consecutivo, [os números] vieram muito abaixo do esperado e continuaram a sugerir uma trajetória mais convergente da inflação, puxando o mercado para uma precificação de primeiro corte do Fed para setembro”, comenta.
Outro fator que chamou sua atenção foi a mudança de posicionamento do Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos, que “agora se volta para o mercado de trabalho, que ‘se encontra de volta ao equilíbrio pré-Covid'”.
Do seu ponto de vista, “eventuais escapes para cima da taxa de desemprego” devem preocupar o FED e deixá-lo “mais convicto em seu ciclo de cortes”.
Com relação ao seu posicionamento, a Kinea afirma preferir apostar em taxas de juros mais baixas (e não totalmente precificadas) em outras economias que não a norte-americana, como é o caso da britânica, europeia e australiana.
“Não vemos motivo para que esses países não sigam uma trajetória semelhante a dos EUA, especialmente porque, em ambos os casos, o mercado de trabalho dá sinais de fraqueza”, comentam.
“Por fim, uma provável agenda protecionista em um eventual segundo governo Trump não deve ser muito inflacionária para a Europa ou Austrália – especialmente vis a vis os EUA, em função do impacto assimetricamente negativo que teria sobre a atividade econômica desses países”.
Enquanto isso, nos Estados Unidos eles seguem “modestamente aplicados nas partes mais curtas da curva e tomados na parte longa”, enquanto aumentou sua posição comprada em dólar, “na expectativa de políticas Republicanas que tragam novamente a percepção de excepcionalismo norte-americano”.
“Políticas protecionistas em um eventual governo Trump devem subir a inflação e impedir um ciclo mais prolongado de cortes do Fed. No outro lado do Atlântico, devem levar a menor crescimento e menores taxas de juros”, explicam, acrescentando que esse posicionamento deve fortalecer o dólar, principalmente contra moedas europeias e yuan, da China.
Por aqui, ela destaca os desafios fiscais que o país enfrenta, apesar do bloqueio no orçamento anunciado pelo governo no meio do mês passado.
“O caminho fiscal escolhido pelo governo é peça fundamental para a direção dos ativos de risco brasileiros para o segundo semestre”, pontua.
“Acreditamos que ele irá atuar de forma a comprar tempo, o que, aliado à expectativa de início de corte de juros pelo Fed, deve contribuir para descompressão de algumas medidas de prêmio de risco”.
Sendo assim, eles mantém posicionamento “limitado à parte mas curta da curva de juros, onde continuamos a acreditar que não será necessário novos aumentos de juros no futuro próximo conforme o mercado precifica atualmente”.
Com relação à China, a gestora se mostrou pessimista.
“Sem novos impulsos para acelerar a transição, o motor de crédito – que usualmente era o principal barômetro da economia – perdeu fôlego e centralidade na cartilha de políticas”, comenta.
“Sem alternativas de investimentos, com um mercado imobiliário e acionário estagnados, os chineses parecem transferir sua poupança para ativos de renda fixa e ouro, pressionando as taxas de juros para baixo e elevando o preço do metal”.
Ela afirma que “não é estranho que a principal preocupação do Banco Central no último mês tenha sido criar medidas para colocar um piso sobre a queda contínua das taxas de juros, muito ligada à especulação financeira em cima da liquidez abundante”.
“Isso se torna importante à medida que o diferencial de juros muito baixo pressiona o Renmimbi, especialmente com a aproximação da eleição americana”, acrescenta.
Isso porque, se Donald Trump sair vencedor da corrida eleitoral e elevar as tarifas comerciais para 50% ou 60% sobre os bens do país, o governo chinês vai acabar permitindo uma desvalorização extra de sua moeda.
“Continuamos a acreditar que uma posição vendida no Renmimbi é um dos melhores hedges disponíveis no mercado”, conclui.
Com relação ao mercado de ações, a gestora fez alterações em sua carteira internacional, diminuindo sua exposição a empresas de tecnologia e aumentando a fatia de companhia que devem se beneficiar de um governo republicano e cortes na taxa de juros dos Estados Unidos.
“Reduzimos nossa posição nas grandes empresas de tecnologia, mantivemos nossas posições em semicondutores, e compramos empresas em setores como energia, financeiro e pequenas empresas”, explicou.
“Também mantivemos posição vendida em mercados emergentes, onde acreditamos que devam apresentar dificuldades de performar em um ambiente em que os Estados Unidos podem estar implementando barreiras alfandegárias e focando seus esforços internamente”.
Por aqui, a grande mudança no portfólio foi a entrada de Weg (WEGE3), justificada pelo “gargalo na cadeia de produtos de transmissão e geração de energia” dos Estados Unidos.
“Aqui no Brasil temos uma empresa com ótimo histórico e exposta à produtos elétricos e ao mercado americano: a WEG”, explica.
“Além de ser uma empresa de excelente qualidade, a combinação de maior demanda com um real mais depreciado deve ser benéfica para venda e margens. Nesse último ponto, vimos uma divergência em relação ao consenso de mercado, que esperava queda de rentabilidade para o segundo semestre do ano”.
Já em commodities, a gestora continua “pouco construtiva” para soja e milho, enquanto a tese “de um verão [no hemisfério norte] aquecido” para o petróleo tem se confirmado, em sua visão.
“Refinarias estão rodando em níveis recordes de capacidade, com consequente consumo de petróleo bruto e aumento da oferta de refinados, fazendo com que as margens de refino caiam”, pontua.
“Para os próximos meses, a queda das margens de refino oferece risco para demanda de petróleo bruto, simultaneamente a um período em que a OPEP deve começar a reverter o elevado volume de cortes impostos ao longo dos últimos dois anos”.
Em Julho, o Kinea Atlas FIC FIM, principal fundo da casa, registrou rentabilidade de 2,70% contra 0,91% do CDI. No ano, o fundo acumula ganhos de 3,62%, ante avanço de 6,18% do seu índice de referência.