O Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos, anunciou, nesta quarta-feira (18), que reduziu a taxa de juros norte-americana em 50 pontos-base (0,50 ponto percentual), para o intervalo entre 4,75%-5,00% ao ano.
O movimento foi superior ao esperado pelos especialistas, que previam um corte mínimo, de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual).
Esse é o primeiro corte anunciado em quatro anos e a primeira vez desde 2008, com exceção durante o período pandêmico, que a autoridade monetária dos Estados Unidos faz uma redução dessa magnitude nos juros.
De acordo com o comunicado emitido junto ao anúncio, a decisão veio “à luz do progresso na inflação e do equilíbrio de riscos”.
“O Comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2% e julga que os riscos para atingir suas metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados”, afirma a publicação.
Ainda assim, a decisão não foi unânime, com Michelle Bowman, diretora da autoridade monetária, sendo a única votante entre os integrantes do comitê a optar por uma redução mínima, de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual).
O FED reduziu a sua projeção para a inflação medida pelo PCE neste ano em 0,3 ponto percentual, para 2,3%, e para o ano que vem em 0,2 ponto percentual, para 2,1%, enquanto elevou suas estimativas para a taxa de desemprego de 2024, 2025 e 2026 para 4,4% (de 4,0%), 4,4% (de 4,2%) e 4,3% (de 4,1%), respectivamente.
Com isso, o gráfico de pontos, que traz as perspectivas dos integrantes da autoridade monetária para a taxa de juros do país, indica que 9 deles esperam que ela encerre o ano entre 4,25%-4,50%, 50 pontos-base abaixo do patamar atual, enquanto 7 deles esperam que ela recue para 4,50%-4,75% (25 pontos-base abaixo do patamar atual), 2 deles estimam que ela permaneça estável em seu novo patamar e 1 deles espera que ela caia para 4,00%-4,25% (75 pontos-base abaixo do patamar atual).
Em coletiva de imprensa realizada após o anúncio, Jerome Powell, presidente do FED, destacou os avanços no combate à inflação e que o corte anunciado hoje é uma “recalibragem” da política monetária do país.
Quando questionado sobre o recente esfriamento do mercado de trabalho, Powell afirmou que ele segue “muito próximo” do patamar de pleno emprego, mas que a desaceleração na criação de empregos “merece ser observada”.
“Essa recalibragem da nossa postura política ajudará a manter a força da economia e do mercado de trabalho, e continuará a permitir mais progresso na inflação à medida que iniciamos o processo de mudança para uma postura mais neutra”, comentou ele.
Apesar do anúncio, ele deixou claro que esse corte não significa que “esse será o ritmo” a ser adotado pela autoridade monetária e que não existe um caminho pré-estabelecido que será seguido, destacando que o Resumo de Projeções Econômicas (SEP) não contém nada “que sugira que o comitê está com pressa” para cortar os juros novamente.
“Esse processo evolui com o tempo”, afirmou ele.
“Acho que vamos abordar cuidadosamente reunião por reunião e tomar nossas decisões à medida que avançamos”.
O anúncio dividiu os especialistas com relação aos próximos passos que o FED deve seguir.
Para a consultoria Capital Economics, a autoridade monetária deverá ser mais comedida à partir de agora.
Ela destaca que nove integrantes esperam uma redução de mais 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) até o final do ano enquanto sete deles projeta apenas mais 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) para baixo, sendo que ainda faltam mais duas reuniões em 2024.
A Jefferies partilha da mesma visão, destacando a fala de Jerome Powell, que, do seu ponto de vista, sinalizou que não há pressa para reduzir os juros e que o processo deve ser cauteloso e dependente dos dados.
Por outro lado, Lindsay Rosner, do Goldman Sachs Asset and Wealth Management, acredita que, com as estimativas do FED para o PCE e a taxa de desemprego do país muito próximas dos níveis atuais, uma eventual desaceleração de alguma delas pode levar a autoridade monetária a reduzir mais os juros do que o projetado no gráfico de pontos.
Já Priya Misra, gestora de portfólio do JP Morgan Asset Management, tudo dependerá dos próximos dados, especialmente do Payroll.
Para ela, caso o mercado de trabalho apresente uma deterioração adicional, o FED deverá levar os juros para um território ainda mais acomodatício.
No mercado, pouca coisa mudou, com os investidores mantendo a previsão de que os juros dos Estados Unidos ainda devem cair mais 75 pontos-base (0,75 ponto percentual) este ano, sendo 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) no encontro de Novembro e 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) na reunião de Dezembro.
Da mesma maneira, as expectativas para o primeiro semestre do ano que vem é de que o FED deve cortar os juros mais quatro vezes em 25 pontos-base (0,25 ponto percentual), levando-o para o patamar de 3,00%-3,25% ao final de Junho.