Nos últimos dias, o mercado brasileiro tem enfrentado uma onda de aversão ao risco que tem pesado sobre os ativos domésticos.
O Ibovespa, que chegou a superar os 134 mil pontos no início do mês, fechou abaixo dos 130 mil pontos ontem, enquanto o dólar, que encerrou setembro abaixo de R$ 5,45, agora volta a se aproximar de R$ 5,70.
Além disso, os contratos de juros futuros têm subido, com o vencimento para janeiro de 2026 passando de 12,324% no final de setembro para 12,690% atualmente.
Essa pressão sobre os ativos brasileiros é sustentada não apenas pela frágil situação fiscal do país e o receio com o possível descumprimento do arcabouço fiscal, mas também por um fator externo, apelidado de “Trump Trade” pelo mercado.
O que é o “Trump Trade”?
Para entender esse fenômeno, é preciso voltar a 2016, quando o então candidato republicano Donald Trump venceu a disputa presidencial contra a democrata Hillary Clinton.
Na ocasião, as propostas de Trump incluíam novas tarifas de importação, cortes de impostos e desregulamentação, o que impulsionou as ações de bancos e small caps norte-americanas, além de fortalecer o dólar em todo o mundo.
A valorização da moeda foi respaldada pela alta dos rendimentos dos títulos públicos dos Estados Unidos, à medida que os investidores projetavam que as medidas poderiam elevar a inflação.
Esse fenômeno ficou conhecido como Trump Trade.
Voltando para hoje
Agora, em 2024, com a desistência do presidente Joe Biden da disputa e a indicação de sua vice, Kamala Harris, como candidata democrata, a intenção de votos para os Democratas cresceu, levando Harris a liderar a corrida presidencial.
Nos últimos dias, no entanto, Donald Trump voltou a ganhar força, com diversas casas de apostas e pesquisas eleitorais indicando que o candidato republicano se aproximou de sua adversária.
Diante disso, o mercado global tem procurado alocar recursos em ativos que, em 2016, foram favorecidos pela vitória de Trump, conforme ressaltou o CIO do Bank of America, Michael Hartnett, em seu podcast semanal divulgado nesta semana.
Hartnett também menciona que outro fator influente nas movimentações do mercado global é a possibilidade de os Republicanos conquistarem a maioria no Congresso dos Estados Unidos, o que facilitaria a aprovação do plano de governo de Trump.
Nesse contexto, o cenário atual se assemelha bastante ao observado em 2016.
Nos mercados de ações dos EUA, o Nasdaq, que concentra empresas de tecnologia, devolveu parte dos ganhos recentes, enquanto o Dow Jones e o S&P 500 renovaram suas máximas históricas.
No mercado de renda fixa, os rendimentos dos principais títulos dos Estados Unidos voltaram a superar os 4% ao ano.
Com isso, no mercado de câmbio, o dólar tem se valorizado frente a todas as principais moedas, com o Índice Dólar (DXY) novamente acima dos 104 pontos.
Impactos nos emergentes e aqui
O “Trump Trade” afeta os mercados globais, mas exerce maior pressão sobre os emergentes, cujas economias, em geral, têm forte participação das exportações.
O S&P/BMV IPC, principal índice de ações do México, por exemplo, devolveu os ganhos obtidos no início do mês, enquanto o peso mexicano acumulou uma desvalorização de mais de 1,5% frente ao dólar em outubro, cenário semelhante ao observado no Brasil.
Olhando para o futuro, analistas destacam que, em caso de vitória do ex-presidente Trump, esse cenário tende a se fortalecer, pelo menos no curto prazo.
Para o Brasil, projeta-se que empresas exportadoras possam ser negativamente impactadas, enquanto o dólar tende a continuar subindo, assim como a curva de juros brasileira, influenciada pela perspectiva de uma flexibilização monetária menor do que o esperado por parte do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos.
Além disso, caso Trump cumpra suas promessas de campanha, a imposição de novas tarifas e o desincentivo à imigração (redução da oferta de mão de obra) podem gerar pressões inflacionárias. Isso alteraria as expectativas sobre os juros por parte do Fed e poderia fortalecer ainda mais o dólar em relação às demais moedas, principalmente as de países emergentes.
As eleições nos Estados Unidos estão marcadas para o dia 5 do próximo mês. Até lá, especialistas destacam que muita coisa pode acontecer, mas reforçam que essa é uma das eleições presidenciais mais difíceis de prever na história recente, o que deve garantir a continuidade da alta volatilidade nos mercados.