Donald Trump está de volta à Casa Branca.
No começo da manhã desta quarta-feira (6), o ex-presidente e candidato pelo Partido Republicano derrotou sua adversária na corrida, a atual vice-presidente e candidata pelo Partido Democrata, Kamala Harris, em uma disputa menos apertada do que se previa.
Além da vitória na corrida presidencial, os republicanos parecem que vão levar, também, a maioria no Senado e na Câmara, no que tem sido chamado de “onda vermelha” (nos Estados Unidos, o Partido Republicano usa a cor vermelha enquanto o Democrata usa a cor azul).
Com sua conquista, diversas questões foram levantadas com relação ao que esperar do segundo mandato de Trump, a começar pelo impacto de seus planos na economia norte-americana.
Make America Great Again
Em sua maioria, os especialistas acreditam que Trump deve focar inicialmente em resolver questões domésticas, focando na desregulamentação da política energética e ambiental e nas questões tributárias que foram amplamente citadas durante sua campanha.
A projeção deles é que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos seja impulsionado em seus primeiros anos de governo, com alguns deles já passando a rever para cima suas previsões para o crescimento esperado no ano que vem.
Esse impulso esperado viria da manutenção no corte de impostos corporativos e pessoais, que foi aprovado durante sua primeira passagem pela Casa Branca, em 2017, e de um provável aumento nos gastos do governo.
Apesar disso, eles ponderam que os incentivos fiscais que devem estar por vir poderão ser limitados e, atrelado a um maior combate à imigração, pode levar a economia dos Estados Unidos a desacelerar de forma gradual à partir de 2026.
Geopolítica
De forma geral, os especialistas afirmam que, além de conter o avanço da China, as questões geopolíticas que envolvem o novo governo de Donald Trump são praticamente uma incógnita, já que o ex-presidente focou todos os seus discursos e esforços durante a campanha para tratar de questões internas.
Olhando para o seu primeiro mandato, alguns deles acreditam que a fórmula deve ser muito semelhante, com o país apresentando uma postura amplamente transacional e que, ocasionalmente, seja até isolacionista, se afastando de questões relacionadas a parceiros existentes.
“Isso pode prejudicar as relações às vezes, com tensões comerciais e diplomáticas enquadrando seus planos de política externa”, afirmam, sobre o assunto, o time de análises do banco holandês ING.
“Além disso, as críticas aos gastos inadequados com defesa dos membros da OTAN provavelmente serão um tema recorrente em discussões sobre questões de segurança mais amplas”.
Ainda assim, também é praticamente um consenso que, após organizar as questões internas, Donald Trump deve focar em resolver os conflitos da Ucrânia e do Oriente Médio, algo que foi abordado, ainda que de forma superficial, durante sua campanha.
A expectativa deles é que o presidente eleito trabalhe para restabelecer a relação entre os países árabes e Israel, assim como fez no final do seu primeiro mandato, enquanto que, olhando para a Ucrânia, a expectativa é que ele deve retirar tropas e financiamento ao país, visando força-la a firmar um acordo com a Rússia.
Voltando os olhos para a China, os especialistas esperam que a guerra comercial travada em seu primeiro mandato com o país deve ter um novo capítulo, principalmente por conta do enfraquecimento da demanda interna da segunda maior economia do mundo.
Para o ING, está de volta o período de incertezas, “onde desenvolvimentos que alteram o cenário podem surgir a qualquer momento por meio de um Tweet (ou talvez uma postagem no Truth Social)”.
“No momento, continua difícil avaliar o impacto, pois a retórica da trilha eleitoral nem sempre se traduz em ação política real, então essas são apenas nossas reflexões iniciais sobre as informações que temos agora”, ponderam.
E os impactos para o Brasil?
Olhando para o nosso país, especialistas comentam que, em um primeiro momento, a tendência é que o “Trump Trade” volte a ganhar forças, o que deve fazer com que o dólar se valorize perante o real.
Além disso, sua política fiscal expansionista pode levar o Federal Reserve (FED, na sigla em inglês), banco central dos Estados Unidos, a ser mais comedido em seu processo de flexibilização monetária, o que tende a manter os rendimentos das treasuries elevados e, consequentemente, o dólar fortalecido mundo afora (incluindo aqui).
Essa alta da moeda norte-americana levaria a um aumento no custo de importação e, consequentemente, a um aumento da inflação, o que pode desencadear uma resposta do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, elevando a taxa Selic para além do patamar atualmente projetado.
Vale ressaltar também que uma potencial taxação de importações por parte dos Estados Unidos deve impactar nossa economia, assim como uma possível continuidade da guerra comercial com a China, iniciada no seu primeiro mandato.
Com exceção do quesito inflacionário, todos os especialistas ouvidos pela Investir Seguro se mostraram cautelosos, ressaltando que tudo ainda é “muito novo” para que possa ter uma conclusão mais concreta, e que os próximos discursos e aparições do presidente eleito devem elucidar, senão todas, as principais dúvidas que o mundo tem sobre o seu segundo mandato.