A China anunciou, nesta sexta-feira (8), um pacote de dívida de 10 trilhões de yuans (US$1,4 trilhão) para auxiliar os governos locais com a chamada dívida “oculta”.
Na prática, Pequim autorizou que esses governos emitam 6 trilhões de yuans (US$840 bilhões) em novos títulos ao longo dos próximos anos. Adicionalmente, eles poderão realocar mais 4 trilhões de yuans (US$600 bilhões) em títulos títulos previamente planejados ao longo de cinco anos para reestruturar suas finanças, o que totalizaria US$1,4 trilhão.
O programa, que entrará em vigor imediatamente e terá duração até 2026, é diferente dos divulgados anteriormente, no sentido de que buscam estabilizar os balanços financeiros dos governos locais no médio e longo prazo, ao invés de injetar dinheiro diretamente na economia do país.
De acordo com estimativas, os governos regionais da China possuem entre 50 trilhões a 60 trilhões de yuans de dívidas “ocultas”.
Ainda assim, ele tem o mesmo objetivo que os demais, buscando estabilizar o desempenho decepcionante que a economia tem apresentado desde a sua reabertura após a pandemia.
Em coletiva, o Ministro das Finanças do país, Lan Foan, afirmou que mais estímulos serão divulgados em breve. O movimento é visto como uma forma acelerada de evitar que a volta de Donald Trump à Casa Branca e uma possível retomada da guerra comercial que o presidente eleito travou em seu primeiro mandato pressionem ainda mais a economia do país.
Ainda que o pacote seja positivo, os especialistas seguem cautelosos com a situação econômica do país, já que ele não irá conseguir resolver o principal problema enfrentado pela China até aqui: o enfraquecimento de sua demanda interna.
Para Huang Xuefeng, diretor de pesquisa da Shanghai Anfang Private Fund Co, o anúncio não é algo para ser comemorado, já que, além de não atacar o centro do problema que a segunda maior economia do mundo enfrenta, não causará grandes impactos nos déficits fiscais dos governos locais da China.
“O dinheiro é usado para substituir dívidas ocultas, o que significa que não cria novos fluxos de trabalho, então o apoio ao crescimento não é tão direto”, acrescenta.
Para Carlos Casanova, economista-sênior para a Ásia no UBP, afirmou que, pelas suas estimativas, para gerar algum impacto, seria necessário que o pacote fosse, no mínimo, o dobro do anunciado.
“[Essas medidas] vão frustrar o mercado, já que a China precisa de mais, essencialmente”, comentou ele, acrescentando que, com o anúncio, as chances de um pacote de estímulo fiscal que seja diretamente voltado para o consumo ser anunciado em breve caíram consideravelmente.
Já o estrategista-sênior para a China no ANZ, Xing Zhaopeng, acredita que a porta segue aberta para medidas que mexam diretamente com a demanda interna do país e que, na verdade, Pequim deixou espaço combater “o impacto do Trump 2.0” mais tarde.