O novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segue nos centros das atenções do noticiário mundial em sua primeira semana de trabalho.
Ontem, ele afirmou que deve anunciar uma tarifa para importações de produtos chineses de 10% até o começo do mês que vem. A taxa é bem abaixo dos 60% prometidos pelo republicano durante sua campanha eleitoral.
Continuando no assunto, ele comentou que a União Europeia também está no radar de taxações, já que sua balança comercial com os Estados Unidos é “muitos desfavorável” para os norte-americanos, o que deve ser compensado com novas tarifas sobre os produtos da União Europeia.
O comentário dividiu especialistas e autoridades financeiras do continente em Davos, onde ocorre o Fórum Econômico Mundial.
Laurent Saint-Martin, ministro delegado de Comércio Exterior e Cidadãos Franceses no Exterior da França, acredita que a vitória de Trump e as perspectivas para a política econômica norte-americana são uma “verdadeira oportunidade” para a Europa.
“Temos que nos manter unidos, isso é muito importante”, comentou.
“A Europa é um continente muito poderoso em termos de indústria, em termos de poupança, em termos de poder de compra, em termos de mercado único. Então, o que precisamos agora é criar mais unidade e defender nossos valores também”.
Apesar disso, ele admite que “provavelmente há um novo formato do mundo e dos sistemas de comércio para amanhã”, sendo necessário, primeiramente, estar unido aos demais países do bloco econômico e preparado para essas mudanças, acrescentando que, no primeiro mandato de Trump, a Europa se uniu em termos de defesa e que, agora, terá que se unir em termos industriais e comerciais.
O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, foi mais cauteloso nos comentários tecidos, destacando ser necessário “enfrentar um dia de cada vez”.
“Na política externa, você sempre tem que reagir a uma determinada situação, especialmente quando você vem de um estado pequeno e percebe que está trabalhando com quem quer que seja o presidente da maior superpotência do mundo”, comentou ele, à CNBC.
“Agora, é claro que me conforto com o fato de que Donald Trump quer que os Estados Unidos permaneçam e conservem a posição de superpotência e, para isso, você precisa de aliados, e acho que esses aliados vêm da Europa. Então, se me permite simplificar um pouco, embora seja ‘América em primeiro lugar’, talvez devesse ser Europa em segundo, o que é ótimo”.
Por outro lado, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, afirmou que o foco do país e de todo o continente deve ser o fortalecimento das relações comerciais com os Estados Unidos e que uma possível guerra comercial com a maior economia do mundo é um “ganho de soma zero”.
“Compartilhamos um forte vínculo transatlântico, nossas economias estão muito interligadas, e acredito que uma guerra comercial não é do interesse [de nenhuma das partes], nem dos EUA, nem da União Europeia”, afirmou.
“Precisamos nos concentrar em como fortalecer nosso relacionamento transatlântico, que agora é mais importante do que nunca”.
A presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, questionou a estratégia do presidente norte-americano de recuperar o setor industrial do país.
“Essa teoria de substituição, em outras palavras, que reduzirei as importações da Europa para reforçar a manufatura interna, é questionável, porque a economia dos EUA está quase aquecida no momento”, afirmou ela, citando o desemprego baixo e a capacidade limitada.
Com relação aos impactos de uma eventual taxação dos produtos europeus importados aos Estados Unidos, ela afirmou que o BCE só agirá em caso de uma ação concreta e reiterou o otimismo com os rumos da inflação neste ano, afirmando que ela deve atingir 2% ainda em 2025.
Os comentários foram suficientes para dar forças às apostas de que a autoridade monetária da Zona do Euro deverá cortar os juros do bloco em 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) no final deste mês.